A campanha eleitoral da segunda volta das eleições no Grande Oriente Lusitano (GOL), que se realiza este sábado, terminou na quinta-feira, num ambiente de crispação pouco habitual entra as candidaturas concorrentes, lideradas atual grão-mestre, Fernando Lima, e pelo professor universitário José Adelino Maltez. Uma importante loja maçónica do Porto fala mesmo em "graves riscos de inquinamento dos laços de fraternidade entre irmãos".
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Uma das últimas polémicas relaciona-se com aquela loja, a Estrela do Norte, que é uma das mais representativas do país e, na primeira volta, votou em massa na Lista A, de José Adelino Maltez. A nível nacional, na primeira volta, Maltez foi igualmente o candidato vencedor, com 445 votos, seguindo-se-lhe Fernando Lima, com 414, e Madeira de Castro, com 374.
Na passada terça-feira, Fernando Lima fez, apenas enquanto grão-mestre do GOL, uma comunicação escrita aos seus "irmãos" - na gíria maçónica, emitiu uma "prancha"- para dizer que a primeira volta das eleições na Loja Estrela do Norte teria decorrido "de forma ilegal", por ter acontecido, em simultâneo, uma cerimónia de iniciação. E acrescentou que aqueles factos "vêm na sequência de outras irregularidades" que originaram uma sindicância àquela mesma loja.
"Ameaçada de graves sanções", a Estrela do Norte respondeu ao grão-mestre, esta quinta-feira, estabelecendo "conexão" entre a ameaça e o ato eleitoral deste sábado e apelando a princípios elementares do GOL: "Não se podem imputar condutas graves sem que se assegure o devido contraditório", disse, acusando ainda Fernando Lima de se expressar de forma "menos cuidada".
Além do mais, a Estrela do Norte considerou que a divulgação da prancha do grão-mestre em vésperas da segunda volta das eleições "comporta graves riscos de inquinamento dos laços de fraternidade entre irmãos e oficinas do Grande Oriente Lusitano".
Esta quinta-feira, na sua última comunicação aos eleitores, José Adelino Maltez também criticou a publicação de "uma prancha do grão-mestre ameaçando uma loja que não votou maioritariamente na sua lista, tentando usurpar poderes do Grande Tribunal Maçónico e dando ao boato e à insinuação valor institucional".
Lima diz que Maltez quer "proto-partido"
Já neste mês de junho, logo após a divulgação dos resultados oficiais da primeira volta (que inverteram os resultados preliminares, que davam vitória a Fernando Lima), a Lista C acusara a Lista A, de Maltez, de querer transformar o GOL, a mais antiga obediência maçónica em Portugal, "numa espécie de proto-partido, dirigido por uma agenda mediática".
Crítico da opção de Maltez por uma maior abertura da maçonaria à sociedade, Fernando Lima escreveu "nunca no passado, como no presente, o povo maçónico se deparou com uma decisão tão fundamental". As presentes eleições servem para escolher, em sua opinião, "entre a serenidade e a exposição permanente", ou "entre um governo reforçado para todos e uma liderança parcial que só trabalhe para "os seus"".
Maltez não quer Gol "ao serviço da geofinança"
"Não, a Lista A não quer um protopartido. O que não quer é uma maçonaria ensimesmada, silenciada e usada para a subversão da legitimidade democrática do Estado e da sociedade, ao serviço da geofinança", reagiu José Adelino Maltez, ainda na sua comunicação desta quinta-feira, em óbvia alusão às atividades de Fernando Lima no "mundo profano".
O atual grão-mestre, que concorre a um terceiro mandato, foi o presidente da Galilei (novo nome da Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do BPN), havendo também referências públicas do escritório de advogados de que é sócio ao gigantesco caso de corrupção que a justiça brasileira batizou de "Lava Jato".
Ainda segundo Maltez, a Lista C empreendeu, a seguir à divulgação dos resultados oficiais da primeira volta, "uma operação de enlameamento eticamente inaceitável, cujo objetivo é manter o atual grão-mestre Fernando Lima no poder executivo, custe o que custar".
Entre as ações daquela alegada operação, Maltez destaca que, "num espaço de pouco mais de uma semana saíram duas capas de jornais ["Sol" e "i"] com assuntos internos do Grande Oriente Lusitano, seguindo diretamente a última Newsletter da Lista C, e ambas sugerindo uma rutura iminente na Obediência e caluniando a lista opositora do Grão-Mestre em instância".