Perdeu progenitores em dois meses, mas não a fé. Cumpre mais uma viagem, num grupo de Paredes.
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No ano passado, Dora Colaço peregrinou até Fátima para agradecer o facto de os pais "não terem apanhado covid". Este ano, fez-se ao caminho para dar graças por eles "terem partido de forma serena, sem dor". Incapaz de conter as lágrimas, conta que, em dois meses, perdeu os progenitores. Primeiro a mãe, derrotada pelo cancro, depois o pai, vencido pelo "desgosto" e pela doença. A tristeza, contudo, não lhe esmoreceu a fé. Pelo contrário. "Pedi a Nossa Senhora para não lhes dar sofrimento e sei que fui ouvida. Tinha de vir agradecer".
Dora seguia integrada num grupo de oito, oriundo de Paredes, que segunda-feira chegou a Fátima e que regressou a casa no mesmo dia, para "evitar a confusão do dia 13", explica Isabel Delgado, a veterana do grupo que, há 27 anos, vai a Fátima a pé, incluindo cinco viagens feitas "a pão e água". Este ano, tem a seu lado a filha Isabel, que cumpre a primeira caminhada e que não esconde a emoção ao aproximar-se do Santuário, após cinco dias na estrada. "É indescritível".
A "equipa" de Caxinas
Mais atrás segue outro grupo, vindo de Caxinas, zona piscatória de Vila do Conde. Desta vez, sem a "veteraníssima" das peregrinações, Assunção Braga, de 78 anos, que fez a última viagem em outubro. Depois de 58 anos a caminhar a pé até à Cova da Iria, segue agora na equipa de apoio.
"Carrega e descarrega o camião e faz as refeições. Uma força da natureza", assegura Maria Dourada, que vai descrevendo as tarefas que os vários elementos têm dentro do grupo de caminhantes. Por exemplo, Luísa Ramos, costureira, trata dos pés, e Daniel Pescador faz massagens. "Somos uma verdadeira equipa, para o que der e vier", afiança.
A seu lado, Mónica Terroso, uma das novatas do grupo, atesta o companheirismo. "Quem cá está há mais tempo fala de amizades para a vida. Depois do que presenciei ao longo destes dias [seis dias de caminhada], acredito".