Os industriais de pirotecnia estão a apelar às câmaras municipais de todo o país para que mantenham os espetáculos de fim de ano, optando por soluções que permitam que sejam assistidos à distância. Dizem que já sofreram muitos prejuízos e que não há empresas que aguentem dois anos sem faturação.
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Numa altura em que muito municípios estão a cancelar eventos devido à pandemia, a Associação Portuguesa de Industriais de Pirotecnia e Explosivos (APIPE) pede que estes aceitem redesenhar o lançamento de fogo-de-artifício, que pode ser feito a partir de vários pontos em simultâneo e em locais mais afastados dos centros urbanos. Indica como exemplo o caso da Madeira, que mantém o evento pirotécnico que, por tradição, dá as boas-vindas ao ano novo. O apelo é dirigido a municípios como o Porto, que já cancelaram as suas iniciativas.
"Apelamos às câmaras que cancelaram o fogo de artifício que revejam essa situação. Pensem na cultura, nas tradições e na necessidade de ter alguma coisa que dê esperança para o ano seguinte. E que permitam que se crie aquela magia da passagem de ano, para que as pessoas sintam que finalmente acabou este ano mau e há esperança num ano melhor", declarou Carlos Macedo, industrial de pirotecnia e presidente da APIPE que, na terça-feira, tornou pública uma carta ao Presidente da República a sensibilizá-lo para o impacto que o cancelamento de eventos pode ter na já instalada crise daquele setor.
40 milhões de prejuízo
"Se não fizermos o fim de ano não vai ser possível. Qual é a empresa, mesmo uma grande, que aguenta dois anos sem faturação? Desde 2020 já são 40 milhões de prejuízo", sublinhou, explicando: "Temos três picos de trabalho no ano: Páscoa, verão e fim de ano. No ano passado perdemos as três épocas, este ano perdemos a Páscoa e o verão, e estávamos a contar recuperar agora algum fôlego financeiro".
A esperança está ainda na noite de viragem de 2021 para 2022. Carlos Macedo afirma que neste momento "há dezenas de autarquias" a trabalhar com empresários do setor para manter o réveillon. "Estamos conscientes do problema sanitário que está a ser vivido mundialmente, mas o fogo-de-artifício está a ser alvo de má avaliação. Devia estar fora da questão dos aglomerados de pessoas", argumenta o presidente da APIPE, esclarecendo que "uma peça profissional, usada em grandes festas como o S. João, sobe a 200 ou 300 metros de altura e tem uma distância ao público, que pode rondar 150 metros".
Ver ao longe
"O que aglomera público são os concertos, as feiras, que decorrem junto ao local do fogo de artifício. Mas nós também fazemos espetáculos sem público, por exemplo quando há a elevação de uma cidade a Património Mundial. O público está nas casas, nos hotéis, nos jardins a apreciar. Não há aglomeração", defendeu, acrescentando que "as pessoas veem o fogo-de-artifício à distância. A um quilómetro, quilómetro e meio é perfeitamente visível".
Carlos Macedo continua a defender a criação de um apoio específico para o setor, que permita fazer face às despesas fixas de manutenção da atividade. "A maioria das empresas fechou à espera de dias melhores. Oito já cessaram atividade e vão para liquidação, algumas delas estão no ranking das 10 maiores do país", resumiu, concluindo: "Temos de ter ajuda, porque senão esta arte centenária vai morrer em Portugal e depois passamos a importar. Por exemplo, em Espanha estão a apoiar muito mais as empresas desta área".