Um responsável da Interamianto afirmou, esta sexta-feira, que existem dezenas de empresas a remover amianto dos edifícios, sem certificação e com trabalhadores sem formação, e salientou já ter retirado a substância de comboios, barcos e hotéis.
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O diretor técnico da Interamianto, Rui Silva, responsável da única empresa que em Portugal está certificada para remover aquela substância utilizada na construção, disse que "o problema do amianto é muito grave" no país e "continua a não haver forma de certificar empresas".
Rui Silva falava aos jornalistas à margem de uma ação de sensibilização organizada pela Quercus, em Lisboa, que contempla um seminário com especialistas de várias áreas e a apresentação de um "mini-estaleiro" com os equipamentos utilizados nas operações de remoção de amianto, instalado pela Interamianto.
A empresa obteve o reconhecimento para trabalhar nesta área na Alemanha e Luxemburgo, já que "o problema em Portugal continua a ser a certificação das empresas", embora na legislação esteja prevista a existência de certificados, frisou, evocando que a Autoridade das Condições para o Trabalho (ACT) somente "faz processos administrativos".
Este responsável apontou "as barbaridades feitas na remoção do amianto, como homens a trabalhar com máscaras de papel, homens que usam o mesmo fato durante 15 dias, quando devia ser trocado de duas em duas horas, empresas que não trabalham com equipamentos" adequados.
O diretor da empresa questionou-se como é que "existem em Portugal dezenas de empresas a remover amianto, nomeadamente fibrocimento, sem certificação alguma?"
"Não vamos conseguir cumprir as metas da União Europeia de erradicar o amianto completamente em 2032, é completamente impossível", defendeu ainda.
"Já removi amianto em comboios, barcos, refinarias, em hotéis, onde se usava muito como proteção e isolamento térmico e acústico e ainda há muito hotéis em Portugal com amianto projetado, tal como hospitais", avançou o diretor técnico da Interamianto.
Rui Silva referiu que a Interamianto já foi contactada por multinacionais, alguns edifícios públicos, mas essencialmente pela indústria, área em que "existe muito mais amianto", e exemplificou com os casos de centrais termoelétricas desativadas, de instalações de petroquímicas, havendo ainda, entre os clientes da empresa, algumas embaixadas.
Em Portugal, a Interamianto já fez mais de 700 trabalhos de remoção de amianto nos últimos 10 anos, avançou. A substância era recorrentemente usada na construção civil, até se ter associado a inalação das suas partículas ao aparecimento de cancro.
O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, explicou que a presença de amianto é mais preocupante quando os edifícios começam a ficar mais velhos, pois "o material começa a deteriorar-se as fibras libertam-se e se forem respiradas afetam o sistema respiratório".
Questionado acerca da preparação dos profissionais para lidar com a situação, respondeu que "os técnicos se formam em função das necessidades, não em termos abstratos que se forma seja quem for", mas o país "tem capacidade para avaliar, com a tecnicidade possível, todas as situações para poder atuar em conformidade".
O bastonário salientou haver muito desconhecimento sobre amianto por parte do público em geral, o que "é preocupante porque não são só os edifícios públicos que estão em causa, são também os particulares", e os proprietários podem não ter o conhecimento suficiente para avaliar a situação.