Os enfermeiros portugueses estão a enfrentar "níveis de exaustão e horas de trabalho verdadeiramente preocupantes". Esta é uma das conclusões do estudo científico que será apresentado durante o congresso da Ordem dos Enfermeiros, que arranca amanhã e prolonga-se até sábado, no Altice Forum Braga, com a presença de quase 1300 profissionais.
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Sem adiantar dados concretos, a bastonária Ana Rita Cavaco assumiu, ao JN, que os resultados desta investigação, coordenada pela professora Raquel Varela - num consórcio entre a Universidade Nova, o Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e o Observatório para as Condições de Vida e Trabalho -, "não a surpreendem", porque traduzem os relatos que já vão chegando à Ordem dos Enfermeiros, nos últimos anos.
"De forma empírica, já sabíamos que as pessoas fazem sistematicamente horas a mais, têm muito mais doentes a cargo do que deveriam ter, os períodos de descanso são quase nulos e, por causa dos baixos salários, muitos deles complementam um dos seus empregos com outro", resumiu a responsável.
O estudo sobre as condições de vida dos enfermeiros, que será divulgado esta sexta-feira, "é o maior alguma vez realizado", diz a bastonária, revelando que o documento será encaminhado para os agentes políticos e instituições do setor, para que se tomem "medidas".
Ana Rita Cavaco adiantou que o congresso servirá, também, para alertar para a necessidade de mais contratações para o Serviço Nacional de Saúde. A bastonária insiste que são necessários "mais 30 mil enfermeiros". "Entrámos na pandemia com 6,7 enfermeiros por mil habitantes e subimos para 7,1, mas a média dos países da OCDE é de 9,7 enfermeiros por mil habitantes. Continuamos muito longe do que são os cuidados e rácios seguros", lamenta a responsável, antevendo, este verão, uma nova vaga de emigração de profissionais, por falta de reformas na carreira.
"No estrangeiro, oferecem aos enfermeiros a possibilidade de fazerem formação de especialidade paga. Aqui, estamos há quatro anos a negociar o internato da especialidade. Isto é muito penalizador, não é só a questão dos baixos salários", elucida Ana Rita Cavaco, que promete, ainda, discutir novos modelos de prestação de cuidados de saúde e abordar dos desafios futuros da enfermagem.
A sessão de encerramento vai contar com uma intervenção, em vídeo, do presidente da República, e a presença do secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales.