Os enfermeiros queixam-se de não serem remunerados pela formação que dão aos alunos. E contestam, também, o facto dos jovens que estão a fazer as especialidades não beneficiarem de financiamento, ao contrário do que sucede com os novos médicos. A denúncia é de Tiago Ramos, coordenador da região Norte do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).
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O sindicalista lamenta o facto da formação "movimentar milhões" de euros, sem que os profissionais recebam mais para desempenhar esta responsabilidade extra em campos de estágio públicos e privados.
Tiago Ramos começa por referir, ao JN, que os estágios realizados ao longo da licenciatura e na especialidade "vão sobrecarregando os enfermeiros". No estágio final de integração profissional, pode superar as 400 horas. Nesse sentido, entende que "a garantia dos cuidados de saúde deve ser assegurada pelo Estado".
A realidade é que "a formação dos enfermeiros é suportada, na íntegra, pelos mesmos, contribuindo para alimentar um negócio milionário. O curso base numa instituição pública terá um custo à volta dos três mil euros. Mas se o estudante procurar uma instituição particular, a licenciatura em enfermagem ronda os 20 mil euros", sublinha.
"Uma Infeliz saga"
Sobre a aprendizagem clínica, em contexto de trabalho real, diz que os estudantes são monitorizados por enfermeiros. Mas "não existe compensação remuneratória para quem, nos locais de trabalho, valida e forma os novos enfermeiros".
Para Tiago Ramos, a situação é ainda mais grave quando, "na grande maioria dos casos, esta tarefa é exercida durante o período normal de trabalho", num "enorme acréscimo de esforço. Uma história lamentável que se torna numa infeliz saga, quando observamos o ensino pós-graduado e pós-especializado dos enfermeiros. Nas escolas públicas, os emolumentos para frequentar um curso de especialização rondam os três mil euros. E passam a 3800 euros no privado", relata, ainda, o responsável. E "estas formações padecem da mesma injustiça".
Olhando para os números de enfermeiros formados anualmente, Tiago Ramos calcula mais de 12 milhões de euros pagos pelos alunos só na fase de formação inicial. Com base nos contratos-programa dos hospitais do SNS, realça os "milhões de euros programados para financiamento autónomo de formação de médicos internos de primeiro e de segundo ano do internato". Não contesta a existência de verbas para formar médicos, sem estes tenham de pagar do seu bolso, contudo exige "um tratamento igual para os enfermeiros".