Experiência e vivências de Ana e Vanessa são vantajosas nas aulas e ajudam a enfrentar a dura tarefa de trabalhar e estudar em simultâneo.
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Ana Salina, 50 anos, e Vanessa Ferreira, 30 anos, têm em comum o facto de terem decidido tirar um curso superior após uma longa paragem. Ana trabalha e estuda durante o dia, Vanessa trabalha de dia e estuda de noite. Apesar do esforço para conciliarem as duas coisas, partilham o entusiasmo do regresso à escola.
Assistente no Gabinete de Comunicação do Politécnico de Leiria, Ana Salina foi incentivada pela instituição a retomar os estudos, que abandonou após o 12.º ano. "O ensino não me interessava de todo. Não havia nada que me fizesse achar que valia a pena continuar."Além disso, "na altura era muito complicado entrar numa universidade pública porque havia poucas vagas".
Aos 16 anos começou a trabalhar como secretária de Redação do "Diário de Notícias" e aos 18 anos como secretária no Tribunal de Contas, onde esteve 27 anos. Até que, em 2017, a sua vida mudou.
O filho mais novo, João Xavier, fez um curso no Conservatório Internacional de Ballet Annarella Sanchez, e gostou tanto que a família trocou Lisboa por Leiria. Ana Salina pediu mobilidade para o Politécnico, fez o curso M23, e entrou em Comunicação e Media, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais.
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"Achar um equilíbrio entre o horário laboral e as aulas foi complicadíssimo, porque tenho de cumprir sete horas de trabalho por dia", explica. "Mas tenho a melhor turma do Mundo."
A frequentar o 2.º ano, fez todas as unidades curriculares. E embora não se queira "armar em sabichona" por ser "a velhota do grupo", admite que as suas vivências são uma mais-valia. Durante o curso, apaixonou-se pela escrita para a oralidade. "Tenho o sonho de fazer um programa de entrevistas na rádio. Gosto da magia do direto", justifica. "Se não tivesse voltado a estudar, não tinha estes sonhos que coincidiram com o ninho vazio", uma vez que, há dois meses, o filho foi para a Companhia Nacional de Bailado, em Lisboa.
"Não foi nada fácil"
Vanessa Ferreira entrou, este ano, em Engenharia Mecânica na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria em regime pós-laboral. Como não conseguiu vaga em Biotecnologia, após o 12.º ano tirou o curso de Desenho de Moldes no Centimfe e começou a trabalhar nessa área.
"Já há algum tempo que queria tirar o curso de Mecânica. Mas só agora consegui ter disponibilidade", conta. "A empresa vê isso com bons olhos, o que não acontece noutras. Consigo tirar dias para estudar e vou-me organizando para entregar o que me propõem a tempo e horas."O horário na empresa da Marinha Grande é das 8.30 às 17.30 horas e das aulas das 18 às 22 ou às 24 horas.
"Não foi nada fácil. Já não estudava há um tempo e faltava-me método", refere a jovem da Figueira da Foz. "Cortei umas horitas ao sono, deixei um part-time aos sábados e de ter fim de semana, mas vale a pena." Sem filhos, Vanessa Ferreira acredita que o facto de ser mais velha é uma vantagem. "Dá outro ânimo e é mais fácil entender a matéria", assegura, insistindo que "devia haver outros cursos em pós-laboral para dar oportunidade às pessoas de melhorar a sua situação financeira e ter mais formação".