Força Aérea ainda está a alugar, por ajuste direto, helicópteros que já deviam estar em ação desde ontem.
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O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) de 2023 começou, ontem, com menos meios aéreos do que no ano passado, apesar de as previsões apontarem para um verão mais quente, seco e propício a incêndios. No ano passado, nesta fase, havia 37 meios aéreos e, para este ano, o Governo queria ter 34, mas só conseguiu 28. São menos seis do que o previsto e menos nove do que em 2022.
A Força Aérea Portuguesa ainda está a tentar alugar, por ajuste direto, seis helicópteros para a fase de combate a incêndios que começou ontem. A operação decorre em contrarrelógio e, desde sexta-feira, foram contratados cinco helicópteros por ajuste direto. Na sexta-feira faltavam nove. O processo está sob tutela do Ministério da Defesa, mas foi o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, que explicou ontem que "faltam quatro helicópteros e dois Canadairs". Estes Canadairs vão ser substituídos por helicópteros pesados "por indisponibilidade [de aviões] no mercado europeu e, por noutros continentes, o preço representar o dobro do previsto", disse a Força Aérea, em resposta ao JN. Assim, no total, faltam seis meios aéreos face ao previsto e existem, nesta fase, menos nove meios que na mesma fase de 2022.
Segundo José Luís Carneiro, a Força Aérea está "a fazer tudo o que pode para conseguir contratar mais meios", mas estes "não estão disponíveis no mercado". A Força Aérea já lançou, por duas vezes, dois concursos públicos para a aquisição de dois aviões e 33 helicópteros. O último concurso dos aviões anfíbios pesados tinha como preço base 25 milhões de euros e ficou deserto. Já o dos helicópteros, com preço base de 34,6 milhões de euros para 33 veículos, só conseguiu contratar 19.
O JN questionou a Força Aérea para saber por quanto dinheiro foram contratados estes 19 helicópteros do concurso público e por quanto estão a ser contratados os restantes por ajuste direto, mas ainda não obteve resposta. José Luís Carneiro disse que será "mais do que estava previsto".
Bombeiros querem novo plano
Ontem, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses,. António Nunes, apelou ao Governo para que reveja o plano de combate aos incêndios florestais para reforçar os meios terrestres de forma a compensar a falta de meios aéreos: "Um plano B ainda é possível. E depois, dentro da cooperação bilateral com outros países, devemos tentar encontrar mecanismos em que outros países nos possam ajudar, se houver necessidade disso".
A falta de meios aéreos reflete-se também na fase mais crítica, a que se inicia a 1 de junho, pois os 72 meios aéreos previstos para daqui a duas semanas também não estão alugados, disse ao JN a Força Aérea: "Para 1 de junho, estão garantidos 37 meios aéreos, aos quais se somarão 28 meios aéreos assim que cumpridas todas as formalidades administrativas e assinatura dos contratos". Ou seja, serão 65, o que é menos do que os 72 previstos, mas é mais do que os 60 que atuaram entre 1 de junho e 30 de setembro do ano passado.
Porém, a época de incêndios que se avizinha pode ser mais severa. À vegetação crescente e seca (ler entrevista) somam-se previsões de meses quentes e secos. Até março, o risco de incêndio aumentou 40%, segundo as contas do Governo. "As indicações que há são más. Se não houver uma mudança no território, certamente vamos ter um ano difícil", antevê Domingos Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais, que adverte para a necessidade de "reduzir no número de ignições". Quanto aos meios, "temos que fazer o que é possível com os meios que há", admite.
Francisco Castro Rego, que presidiu ao extinto Observatório Técnico Independente dos incêndios, põe alguma água na fervura na questão meteorológica, pois "todas as previsões com mais de 15 dias têm alguma falibilidade". Sublinha, contudo, que se devem preparar "os piores cenários".
Os 10 400 meios terrestres estão operacionais
Ao contrário do que acontece com os meios aéreos, a disponibilização de meios terrestres está a cargo do Ministério da Administração Interna por via da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Esta entidade confirmou ao JN que estão operacionais, desde ontem, os 10 400 homens e mulheres previstos no DECIR para a fase até 31 de maio. Destes, 1653 estão em funções de vigilância e 8747 estão divididos entre equipas de ataque inicial e equipas de ataque rápido. A 1 de junho serão 11761 meios e, a 1 de julho, serão 13891, diz a ANEPC.