Veste uma bata branca, põe a máscara à frente da boca e nariz, tira o plástico de proteção da viseira e, por fim, coloca as luvas. Jorge Ratola, vice-presidente da Câmara de Aveiro, está pronto para liderar uma das equipas que, entre terça e quarta-feira, se fazem à estrada para recolher os votos de quem está em isolamento profilático ou em lar e se inscreveu para participar na eleição para a Presidência da República.
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Só com este material de proteção é que as equipas poderão entrar nas instituições ou nas habitações, procurando evitar contágios em tempo de pandemia. Entre cada habitação ou entre cada lar, terão de mudar todo o equipamento.
A saída está marcada para as 8.45 horas. A chegada não tem hora definida. Jorge Ratola passará por dois lares em Santa Joana, onde o aguardam um total de 11 eleitores. Para além da indumentária de proteção, leva os boletins de voto e os dois envelopes correspondentes, que serão selados no local para assegurar o sigilo do voto.
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"É uma decisão do Governo e temos de a executar", diz, ao JN, Jorge Ratola. E, em seguida, solta um desabafo: "o processo não tem coerência com o que se está a viver no país", aludindo ao estado de crescimento da pandemia.
Em Aveiro inscreveram-se 129 eleitores, dos quais 77 correspondem a pessoas que estão em isolamento profilático e 52 a residir em quatro lares (Santa Casa da Misericórdia, Centro Social de Santa Joana Princesa, Associação de Solidariedade e Ação Social de Santa Joana e Centro Social e Paroquial de S. Bernardo).
"Há pessoas a votar em todas as 10 freguesias", avançou o presidente da Câmara, Ribau Esteves. Para recolher a totalidade dos votos nas habitações, serão necessárias sete equipas (de duas pessoas cada). Para ir aos lares, outras três equipas, que serão sempre lideradas por vereadores.
Ribau Esteves diz que não foi difícil encontrar pessoas para participarem no processo, que envolve desde os responsáveis ligados ao processo eleitoral, aos "especialistas da Câmara em covid-19 e equipamentos de proteção" e, para completar, "funcionários da divisão da cultura, que estão mais disponíveis". Garante que não teve nenhuma recusa.
Urnas em caixas de papel A4
Ontem, após confirmar quantas pessoas estavam inscritas, a Câmara aveirense definiu as equipas e os circuitos para recolher os votos, assim como ultimou a logística com os boletins de voto e o material de proteção individual. Improvisaram-se urnas, que serão, no caso de Aveiro, "caixas de resmas de papel A4" que, garante o edil, "cumprem os requisitos". No fim, "serão recicladas".
As "tarefas" são imensas. "Temos, por exemplo, de telefonar ou mandar mensagem a avisar os eleitores a que horas irão as equipas a sua casa. E avisar os partidos dos circuitos definidos, caso queiram fiscalizar", trabalho que foi feito durante o dia de ontem. Os votos ficarão dois dias em quarentena, serão enviados para as assembleias de voto que no dia 24 os colocam nas urnas.
O processo, critica o edil, "é um disparate, não tem sentido nenhum". Ribau Esteves defende que "em situações excecionais deveriam ser permitidas medidas também excecionais. As pessoas em isolamento profilático e nos lares e emigrantes deveriam poder votar por correspondência", insiste. "É um desperdício de meios e não melhora a transparência".