Perto de 13 mil pessoas inscreveram-se para o voto no domicílio, que se realiza esta terça e quarta-feira. Não se sabe, porém, quantos desses residem em lares. Nem quantos ficaram de fora.
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Depois de ser confirmado que os utentes das estruturas residenciais ilegais não se poderiam inscrever, houve outro entrave à participação eleitoral dos idosos: muitos lares não conseguiram fazer a inscrição. A Comissão Nacional de Eleições (CNE) admite que tal aconteceu por falta de "coincidência efetiva dos dados".
Para os utentes dos lares se conseguirem inscrever no voto no domicílio, os seus dados tinham que ser dados, primeiro, à Segurança Social para que fossem comparados a confinados. Depois, teriam de se inscrever junto da Secretaria-geral do Ministério da Administração Interna (MAI). E foi aí que se verificaram os problemas.
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"Sempre que tentamos introduzir os dados, recebemos uma mensagem a dizer que as informações não coincidem", contou, ao JN, a diretora-geral da Casa dos Pais, no Porto. Segundo Margarida Faria, a instituição ainda esteve três dias a tentar inscrever os idosos. Mas nada feito. O problema era sempre o mesmo: ausência de coincidência de dados. Doze utentes da instituição ficaram impedidos de votar, hoje ou amanhã.
"Criamos expectativas nos idosos e agora, por razões que desconhecemos e que não controlamos, não conseguimos que os nossos utentes votem", lamentou a diretora-geral da instituição.
Confrontado com a situação, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou desconhecer o caso e enfatizou: "O sistema só pode aceitar quem está registado pela Segurança Social".
Já o porta-voz da CNE, João Tiago Machado, admitiu que "alguns lares não se conseguiram inscrever", ao que tudo indica porque "não houve uma coincidência efetiva dos dados" dos eleitores. "Não percebemos tanta burocracia. Porque é que uma pessoa para votar antecipadamente tem de se registar na Segurança Social e depois no MAI", contrapôs, com frustração, Margarida Faria.
Só dois vão acompanhar
Também as candidaturas enfrentam problemas com o voto dos confinados: apenas João Ferreira e Marisa Matias conseguiram indicar delegados para as brigadas que, hoje e amanhã, vão a casa de doentes e lares de terceira idade.
André Ventura ainda tentou ter representantes mas não conseguiu. "Devido a questões relacionadas com a covid e com o confinamento que reduzem substancialmente a disponibilidade das pessoas", justificou, ao JN, a candidatura do líder do Chega.
"Fomos apanhados de surpresa com uma avalancha de situações de exceções. Não estávamos preparados", afirmou a candidatura de Ana Gomes, enquanto Vitorino Silva esperava que a ausência de "fiscalização" das candidaturas não propicie "golpadas".
O voto no domicílio vai ocorrer em 271 dos 308 concelhos do país. Há 12 906 inscritos, a maior parte dos quais nos distritos de Lisboa (3189), Porto (1335), Setúbal (1181), Braga (907) e Aveiro (818). Há concelhos com mais de 200 inscritos, como Lisboa (984), Sintra (508), Porto (304), Coimbra (268) e Cabeceiras de Basto (259). O que obrigou, nos últimos dias, à criação de centenas de brigadas. As candidaturas admitem que, num dia, seria impossível conseguirem representantes para tantas. Das sete, apenas a de Marcelo Rebelo de Sousa nem sequer queria. "Confia que o sistema funcione", justificou a candidatura do presidente da República.
Votação
Participação no voto em mobilidade
Segundo dados provisórios do MAI, votaram anteontem 152 962 eleitores dos 187 943 inscritos em 270 municípios (incluindo Lisboa e Porto), ou seja, 81,4%. No total, estavam inscritos 246 880 eleitores para o voto em mobilidade.
Marcelo defende voto eletrónico
Marcelo Rebelo de Sousa defende a introdução do voto eletrónico e que os emigrantes possam votar por correspondência nas presidenciais. "Na próxima alteração da lei eleitoral tem de ser rediscutida a matéria", disse, em entrevista, a um jornal francês.