Algumas organizações já estão a pagar o dobro pela eletricidade e gás. Setor social espera apoios semelhantes aos das empresas. Misericórdias queriam instalar painéis solares para diminuir o consumo mas asseguram que as candidaturas estão quase todas a ser rejeitadas.
Corpo do artigo
O setor social está a braços com faturas de energia entre 20% e 40% superiores às do ano passado. Mas, nos últimos dois meses, os custos estão a atingir o dobro, face ao mesmo período do ano passado. E há instituições, como uma Misericórdia de Vila Real, com aumentos de gás de 485%.
Sem possibilidades de cortar com consumos de equipamentos como lares que funcionam 24 horas por dia, o setor social depositou as suas esperanças na instalação de painéis solares fotovoltaicos. Mas as candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) estão quase todas a ser rejeitadas, ou por falta de relatórios ou por demora das autarquias a emitir documentos.
Consumo muito elevado
As instituições do setor social estiveram, a pedido do Governo, a comparar as faturas de energia deste ano com as do período homólogo do ano passado. "Nas IPSS, sobretudo residenciais, há um consumo muito grande de energia. Estamos a enfrentar aumentos brutais, superiores a 40%", revela Lino Maia, presidente da Confederação das Instituições de Solidariedade, que representa mais de três mil associados.
Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias, informou o Governo de aumentos de 20% a 22% na eletricidade e de 26% no gás. Mas algumas instituições começaram a avisar a associação, esta semana, de que já estão a pagar o dobro. Um valor que poderia ser superior se não estivesse em vigor o mecanismo ibérico.
As situações de maior consumo ocorrem no Interior. Por exemplo, a União das Misericórdias detetou o caso de uma instituição do distrito de Vila Real com um aumento de 485% na fatura do gás, em julho, face ao mesmo mês de 2021.
"As percentagens dos aumentos são muito altas", confirma Luís Alberto Silva, presidente da União das Mutualidades Portuguesas.
"Desprezo pelo setor"
Impossibilitados de cortar nos consumos, os equipamento sociais estão a tentar colocar painéis solares fotovoltaicos, recorrendo aos apoios do PRR. Mas as candidaturas estão quase todas a ser "indeferidas".
"Umas por falta de relatórios, outras porque eram necessários documentos camarários que levariam meses a obter", especifica Manuel Lemos, criticando a Estrutura de Missão Recuperar Portugal por nem sequer aceitar reunir-se com o setor.
"Não podemos ser penalizados por algo que não controlamos, como a demora na emissão de documentos municipais. O PRR tem de ser flexível. Assim não vale a pena, não serve as pessoas e vai ter uma execução muito aquém do desejável", defende o presidente da União das Misericórdias, acusando a Missão Recuperar Portugal de "desprezo absoluto pelo setor".
Governo em silêncio
Sem PRR, as instituições sociais aguardam, agora, pela regulamentação do pacote de apoios, anunciado pelo ministro da Economia e do Mar, no passado dia 15, junto com o das empresas.
"O Estado devia de olhar para o setor social da mesma forma que olha para as empresas", pede Luís Alberto Silva, esperando que as ajudas anunciadas pelo Governo sejam atribuídas a fundo perdido. O presidente da União das Mutualidades também tem curiosidade em ver como serão distribuídos os apoios para o gás.
"Não é possível reduzir o consumo nem passar para o mercado regulado, porque ultrapassámos os valores. Só se fecharmos as instituições, remata Lino Maia.
Contactado pelo JN, o Ministério da Economia recusou avançar se equaciona apresentar mais medidas de apoio ao setor social. "Para já, nada mais temos a acrescentar", disse apenas.
Apoios
120 milhões de euros para aceder ao PRR
O ministro da Economia anunciou, no passado dia 15, uma linha de financiamento de 120 milhões de euros para o setor social fazer face às necessidades e executar os programas do PRR.
5 milhões de euros de ajuda para o gás
Costa Silva avançou ainda com cinco milhões de euros para se "fazer face ao aumento do preço do gás" e 20 milhões de euros para formação profissional em "competências verdes".