Queixas aumentam após anúncio de mais energia renovável nas habitações. Câmara do Porto admite "problemas pontuais".
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Estão instalados há cerca de quatro anos, mas não ajudam a poupar na fatura da luz. Os painéis solares colocados pela Câmara do Porto no âmbito das obras de requalificação do Bairro do Falcão, cujo investimento total rondou os dois milhões de euros, "só funcionaram durante um ou dois meses" e obrigam os moradores a ter os termoacumuladores, de 160 ou 200 litros, ligados à tomada. De outra forma, dizem não ter água quente.
"Já se fizeram muitas diligências. Liguei para a linha telefónica da Domus e disseram que não havia nenhuma reclamação pendente. Andamos nisto há três, quatro anos"
As queixas tomaram proporções depois de o Porto ter anunciado, no âmbito do Pacto para o Clima, que irá utilizar os telhados de mais de 50 bairros sociais para produzir energia renovável. "Acho muito bem. Mas aquilo que já têm não funciona e não querem saber", revolta-se Pedro Lima, 48 anos, filho de um casal que reside no bairro, que diz ter-se queixado, por várias vezes, ao longo dos últimos anos, à Domus Social, sem resposta. "Antigamente, as pessoas tinham pequenos cilindros. Agora, de cada vez que querem tomar banho, têm de aquecer aquela água toda. É isso ou tê-lo sempre ligado. Imagine, com o aumento do custo da eletricidade, o que vai acontecer. E há apartamentos, de tipologias superiores, com reservatórios de 200 ou 250 litros", alerta Pedro Lima.
"problemas pontuais"
"No último andar tem um buraco no teto para ter acesso ao sótão, mas devia haver uma janela para o telhado e não tem. Se quiser ir lá, tenho de tirar a telha, ou ir por fora"
A Câmara do Porto diz que a empresa municipal Domus Social, responsável pelo parque habitacional da Autarquia, tem conhecimento "da existência de problemas pontuais nos painéis solares" e afirma, perante este cenário, ter "acionado a intervenção de equipas externas especializadas neste tipo de manutenção". Acrescenta que "foi lançado um concurso público para proceder à contratação de mais uma empresa de manutenção deste tipo de equipamentos" e que o procedimento "está em fase de avaliação de propostas".
Já Fernando Loureiro, de 63 anos, garante ter ouvido queixas dos próprios funcionários responsáveis pela manutenção: "Quando chegaram cá, queixaram-se de que não havia "linhas de vida". Puseram agora. Depois, não há acesso interno ao telhado. E dizem ainda que era preciso um ponto de água lá em cima. Moral da história: nada disto funciona". "Quem pagava 50 euros de luz está a pagar 100 ou 120 euros", acrescenta Fernando Loureiro, perspetivando um custo ainda maior com a subida dos preços da energia. Aliás, a vizinha Fernanda Soares, de 71 anos, confessa que "já não liga as luzes à noite".
"Sou só eu e o meu marido e há meses em que pago 70, 75 euros de luz. Agora até pusemos uma tomada inteligente para ligar só umas horas. Caso contrário, ainda pagávamos mais
"Estamos a ligar à tomada um depósito de 160 litros de água que deveria funcionar a energia solar. Está avariado. Para isso, um de 40 era suficiente, para mim e para a minha mulher", constata Joaquim Lima, de 85 anos, pai de Pedro Lima.
O Município acrescenta que os equipamentos são acessíveis "tanto pelo interior como pelo exterior do edifício", mas que por ser uma intervenção realizada por entidades externas em espaços privados, a norma é que o acesso seja efetuado pelo exterior.
Pacto do Clima
Agra do Amial
"O objetivo é que até 2030 todos os edifícios de habitação municipal produzam energia", diz o Pacto para o Clima do Porto, estimando que a operação no Bairro Agra do Amial, que deverá arrancar até ao final do ano, "permita produzir energia limpa para 181 habitações e uma escola".
Iluminação LED
Ainda este ano, inicia-se a substituição de mais de 26 mil luminárias na cidade do Porto para tecnologia LED, que correspondem a cerca de 90% do total existente. Prevê-se uma poupança anual superior a um milhão de euros.
Redesenhar as ETAR
O Porto irá redesenhar as suas ETAR, transformando-as em fábricas de recursos.