Governo conta 102 mil refeições servidas nas férias desde 2019, sobretudo a estudantes carenciados, mas também há câmaras a garantir esse serviço.
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Arrancam as férias de verão, mas milhares de alunos vão continuar a ir à escola para almoçar, seja por carência económica, seja porque participam nas atividades lúdicas que os municípios promovem como forma de dar resposta às famílias que não têm onde deixar as crianças.
O Ministério da Educação garante que, pelo menos, 36 escolas servirão refeições este mês e, para já, duas planeiam fazê-lo em agosto. Nos últimos três anos, foram confecionados mais de 102 mil almoços nas férias, sobretudo para estudantes com Ação Social Escolar. No verão do ano passado, foram servidas 36 mil refeições; no de 2020, contabilizou-se um total de 41 315; e, em 2019, distribuíram-se 25 426 refeições. Os dados, frisa o Governo, referem-se apenas aos estabelecimentos que ainda "têm os refeitórios concessionados, já que, nos refeitórios de gestão direta, o prolongamento desse serviço não carece da validação por parte do Ministério da Educação". Nestas contas, também ficam de fora as iniciativas lançadas pelos municípios, que incluem o fornecimento de refeição.
Por exemplo, a Câmara do Porto adiantou ao JN que, no âmbito da iniciativa Escola Solidária, "mantém abertos os refeitórios escolares do 1.º Ciclo e dos jardins de infância durante as pausas e férias escolares (julho, agosto e setembro), garantindo a refeição e o lanche gratuitos aos alunos do Escalão A" da Ação Social Escolar e estimando servir "cerca de 45 600 refeições durante as férias escolares, abrangendo cerca de mil crianças por dia". O que corresponde a 17% das refeições feitas em período letivo.
Matosinhos irá assegurar as refeições até 31 de julho para alunos carenciados (com escalão A ou B), para crianças que frequentem a Componente de Apoio à Família, dinamizada pelas associações de pais, e para os estudantes com necessidades de saúde específicas inscritos no programa de férias municipal, servindo cerca de 1100 refeições diárias (25% das refeições em período de aulas).
Outras autarquias, como Gaia, Maia, Braga, Guimarães, Gondomar, Santa Maria da Feira, Coimbra, Odivelas, Sesimbra, Paredes, Alcochete, Setúbal, Vila Franca de Xira e Alcochete, vão proporcionar a alimentação a milhares de alunos que participam em atividades.
Câmaras fazem atividades
Todos os municípios das áreas metropolitanas e das capitais de distrito que responderam ao JN dispõem de programas para ocupar os mais novos. Os preços em campos de férias de instituições ou de empresas privadas são geralmente mais elevados, mas, à semelhança das iniciativas promovidas pelas câmaras, também têm registado grande procura.
Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes Escolares, sublinha que as atividades organizadas por câmaras, algumas instituições e escolas "dão resposta a problemas familiares que, de outra forma, seriam muito graves", porque "a maior parte das famílias não tem soluções para deixar os filhos enquanto estão a trabalhar" e nem todas têm possibilidade de pagar outras soluções "caríssimas".
Também as refeições escolares são imprescindíveis para muitas crianças com carências. "A única refeição completa que comem durante o dia normalmente é na escola", acrescenta o dirigente. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional dos Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, também considera que estas atividades de ocupação nas férias são importantes para as famílias que estão a trabalhar e não tenham onde colocar os filhos.
"Mas sempre que o aluno possa estar com a família é muito importante, para sair do ambiente escolar onde já esteve todo o ano. E foi um ano bem duro para todos. É importante respirar outros ares".
Posição
Respostas públicas aliviam famílias
A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas considera, pela voz da secretária-geral, Ana Cid Gonçalves, que, "no momento atual que vivemos, com a escalada do preço dos bens essenciais, é muito significativo" que se mantenham as refeições escolares nas pausas letivas. Também é importante que haja "respostas públicas" para ocupar as crianças e os jovens e, assim, "aliviar as famílias".
As férias escolares são um "enorme desafio para as famílias perceberem onde podem deixar os filhos, com segurança e a custos comportáveis. Sem haver esse apoio que é prestado tantas vezes pelos municípios, os custos que as famílias têm de suportar são muitíssimo elevados e é muito difícil fazerem face a esses custos", explica Ana Cid Gonçalves. A maior parte das atividades tem um "preço acessível", considera a secretária-geral, mas "quando existem vários filhos, é mais difícil". A associação defende, assim, que "haja uma redução em função do número de filhos, um ajuste de preço para que as famílias possam comportar esse encargo sem passar dificuldades".
Ofertas do Norte ao Sul
Porto
Dos programas promovidos pela Câmara, nota para a Missão Férias@Porto, que arranca hoje e decorre até 26 de agosto, com atividades para residentes ou não na cidade. A inscrição varia entre 55 euros/semana e os 450 euros/oito semanas. Esta será a maior edição de sempre, com as 3072 vagas já praticamente esgotadas.
Matosinhos
Pela primeira vez, a Câmara de Matosinhos alargou o programa ao mês de agosto, dispondo de oito semanas de atividades que vão do desporto a visitas a museus. Custam 75 euros/semana, mas o preço desce quando há mais do que um filho.
Feira
Idas à praia, aulas de surf, desporto, artes plásticas, visitas a Serralves, ao Parque Aquático de Amarante e ao Magikland são algumas das iniciativas do programa Vives do Município da Feira e da associação de pais, para alunos do 1.º Ciclo ao Secundário. Os preços vão de 10 a 35 euros/semana, conforme o escalão dos alunos.
Sintra
Um dos programas de Sintra chama-se "À Descoberta dos Tempos Livres" e abrange 2500 alunos do Pré-Escolar e 65 do 1.º Ciclo. Decorre de julho a setembro, com uma interrupção de duas semanas em agosto.
Leiria
O Município de Leiria tem parcerias com freguesias, associações de pais e IPSS, assegurando 61 programas a crianças do Pré-Escolar e 58 para o 1.º Ciclo. Há atividades gratuitas e outras pagas. Começa nos 18 euros para os alunos do Escalão A.
Setúbal
Uma das novidades em Setúbal é a ABA - Animação nas Bibliotecas e no Arquivo, com atividades ligadas à leitura, visitas a monumentos, museus, Pavilhão do Conhecimento, Torres do Tombo e um piquenique no Parque do Bonfim. As inscrições, abertas, são gratuitas.
Vila Real
Para além do "Verão em Movimento", a Câmara de Vila Real realiza o campo de férias "Geração IN", que criará uma resposta dirigida a crianças e a jovens abrangidos pelas medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão.
O Zoo Santo Inácio, em Gaia, dispõe de campos de férias que permitem aos jovens aprender a cuidar de 600 animais. O custo é de 22 euros por dia, para crianças dos seis aos 13 anos.
A empresa Campo Aventura, em Óbidos, promove atividades ligadas à sustentabilidade e aventura. Sete dias custam 455 euros e o período de 14 dias tem o valor de 850 euros.