Maioria das escolas com projetos de inovação vai ter aulas em dois semestres. Diretores acreditam que modelo ganhará adeptos.
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Há escolas onde os professores estão a reorganizar os programas curriculares definidos pelo Ministério da Educação. Outras em que os alunos são integrados em grupos de aprendizagem em vez das tradicionais turmas. Ou que não terão diretores de turma mas sim equipas educativas. É uma revolução em marcha, pelo menos em 50 agrupamentos. A partir de hoje, quando os 1,2 milhões de alunos do Básico ao Secundário já tiverem regressado às escolas, mais terão aulas divididas em dois semestres, disciplinas com novos nomes ou apenas uma pauta durante o ano.
Depois da introdução há dois anos do programa de flexibilidade curricular, 50 agrupamentos avançaram para o reforço da autonomia através de projetos de inovação pedagógica. "É uma mudança que não pode parar" e que, para alguns diretores, é a marca deixada pela equipa de Tiago Brandão Rodrigues nesta legislatura.
Em vez de Geografia e Ciências Naturais, os alunos do 8.º ano do agrupamento Ferreira de Castro (Sintra) vão ter Ciências do Ambiente. Em Alcanena, os do 9.º, em vez de História, vão ter Cidadania e Atualidade. Em Oliveira do Bairro, os alunos do 5.º vão ter uma nova disciplina, Sociedade, dedicada ao currículo local. São exemplos de fusão de áreas ou novas disciplinas.
só UMA PAUTA EM JUNHO
A maioria destes 50 agrupamentos organizou o ano em dois semestres em vez de três períodos. Por decisão municipal, as escolas de Almada e Odivelas também vão funcionar nesse regime. E no próximo ano letivo, muitas mais seguirão esse caminho, acredita Filinto Lima, presidente da associação de diretores (ANDAEP).
As escolas aproveitam o reforço da autonomia (mais de 25%), permitido nos projetos inovadores, para criarem mais oficinas e tempo em laboratório, fundirem programas e criarem novas disciplinas. Objetivo: ganhar tempo para ensinar.
"A flexibilidade permite às escolas fazerem o que o Ministério nunca conseguiu: opções pedagógicas que permitem reorganizar os tempos curriculares", resume o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.
Na organização por dois semestres, os alunos começam e acabam o ano ao mesmo tempo que os restantes, mas terão mais pausas durante o ano e mais curtas (em novembro e final de janeiro, além do Natal, Carnaval e Páscoa). O melhor modelo, consideram os diretores de Oliveira do Bairro, Alcanena e Ferreira de Castro, para ganharem tempo e multiplicarem os instrumentos de avaliação, libertando-se dos dois testes por período.
No agrupamento de Sintra, os alunos só vão ter notas quantitativas em junho. No final do primeiro semestre (fim de janeiro) e nas duas avaliações intercalares (novembro e abril), será entregue uma avaliação descritiva, explica o diretor, António Castel-Branco.
"O grande desafio dos professores é conseguir transmitir conhecimento a quem não o quer receber e potenciar a curiosidade dos alunos. Já não basta despejar saber", sublinha Júlia Gradeço, diretora em Oliveira do Bairro.
ensinar a interpretar
Em Alcanena, os alunos do 2.º ciclo vão ter um Laboratório de Línguas (uma hora semanal com dois professores) para praticarem a oralidade e escrita no Português e Inglês. Os do 3.º ciclo terão o Laboratório Magalhães, que pretende colmatar uma das maiores falhas diagnosticadas nos exames e provas de aferição: as dificuldades em analisar e relacionar fontes. Por isso, explica a diretora Ana Cohen, os alunos do 7.º, 8.º e 9.º º vão ter uma hora semanal, com dois professores (História e Geografia) apenas para interpretarem documentos.
Os três diretores também aproveitaram a autonomia para tornarem as aulas mais práticas. Ana Cohen, que há dois anos avançou com a flexibilidade em turmas do secundário, garante que as novas metodologias não chocam com o modelo de exames de acesso ao Superior. Nenhum aluno do 11.º reprovou e em Biologia/ Geologia a escola conseguiu média acima da nacional.
Outras mudanças
Manuais gratuitos até ao 12.º
O projeto lançado em 2016/ 2017 foi sendo alargado e, este ano, todos os alunos do ensino público, do 1.º ao 12.º ano, têm acesso a manuais novos ou reutilizados, num total de oito milhões de vouchers (70% já resgatados). O presidente da Confederação Nacional de Pais (Confap), Jorge Ascenção, tem denunciado queixas relativas ao estado dos livros reutilizados, especialmente no 1.º ciclo. O Ministério da Educação recomenda aos pais que peçam a substituição dos livros nas escolas.
Empresas privadas também dão dispensa
O Governo, este ano, resolveu dar três horas de dispensa aos funcionários públicos para acompanharem os filhos, até aos 12 anos, no primeiro dia de aulas. Há empresas privadas, como a Altice, a seguir o exemplo e a dar dispensa aos colaboradores. Também a empresa Partteam, em Famalicão, e o Grupo Bernardo da Costa (BC), vão dar meio dia a todos os seus funcionários para que possam acompanhar os filhos ou familiares no primeiro dia de escola.
Mais tempo para exames
Os alunos do 9.º, 11.º e 12.º que fazem exames no final do ano letivo terminam as aulas a 4 de junho. Pela primeira vez, a primeira fase dos exames (entre 15 de junho e 7 de julho) terá mais de três semanas para evitar a sobreposição de provas a alunos que optaram por fazer disciplinas de outras áreas. Os alunos do 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º terminam as aulas a 9 de junho e os do 1.º ciclo a 19 de junho.
Mais 1400 vagas no pré-escolar
Apesar de não ser obrigatório, a generalização da oferta de pré-escolar a crianças a partir dos três anos era uma medida do programa do Governo. Este ano, foram criadas 50 novas salas que representam mais 1400 vagas. Desde 2016, o ME garante que foram criadas 7500 novas vagas.
Redução de alunos por turma
A redução de 30 para 28 alunos chega este ano às turmas do 10.º. Tal como aconteceu no Básico, será aplicada de forma progressiva no Secundário. O limite máximo no 1.º ciclo é de 24 alunos, restabelecendo-se assim os limiares definidos pelo ex-ministro, Nuno Crato.
Falta crónica de funcionários
É uma das maiores preocupações dos diretores: a falta crónica de funcionários. Hoje, por exemplo, há protesto marcado na Secundária dos Alcaides de Faria (Barcelos). "Apesar do reforço de 3500 esta legislatura, na última década saíram mais de oito mil das escolas", frisa Manuel Pereira (ANDE), defendendo que "este é um problema crónico que não terá solução" enquanto não forem tidas em conta as reais necessidades das escolas.