Prestes a iniciar o 5.º ano de escolaridade, David Jardim, de 10 anos, vai ter pela primeira vez livros em segunda mão. Aliás, em terceira. Os mesmos manuais já serviram um dos irmãos mais velhos e um amigo, mas não é por isso que David, aluno do Agrupamento de Escolas de Esgueira, em Aveiro, está menos entusiasmado para iniciar as aulas.
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Ali por casa, a reutilização de manuais (e não só) é normal. Este ano, os pais, Lucília Magalhães e Eduardo Jardim, abdicaram dos vouchers para livros, oferecidos pelo Governo, a que teriam direito para os três filhos. Tudo em prol do ambiente.
A família Jardim tem três filhos. Além de David, há Tomás, de 13 anos (8.º ano), e Eduardo, de 17 (12.º), que herdou o nome do pai. "Este ano, pela primeira vez, tínhamos direito a vouchers para os três, mas optámos por não os utilizar. Para o David, tinha em casa os livros que tinham sido do Tomás. Para o Tomás, os que comprei na altura para o Eduardo. E para o Eduardo arranjei emprestados", explica Lucília Magalhães, mãe do bem disposto trio e professora de Matemática.
"Acho que é uma questão de sustentabilidade, de reutilização e de ambiente. E também da educação que, enquanto casal, queremos dar aos nossos filhos. Se temos os livros dos irmãos e estão em bom estado, não há necessidade de utilizar os vouchers", sublinha.
custariam 500 euros
Se tivessem que comprar manuais para os três filhos, Lucília e Eduardo teriam que gastar, este ano, "cerca de 500 euros". Em vez disso, com um ou outro caderno de atividades, só gastaram "à volta de 50 euros". Mas o progenitor alerta: "Esta poupança que conseguimos ter, nos últimos dois anos, só é possível se os manuais não mudarem com frequência".
Adeptos da reutilização - mesmo em relação às roupas dos filhos, que também passam de uns para os outros ou chegam a vir de filhos de amigos -, Lucília e Eduardo louvam a iniciativa dos vouchers do Governo, que funcionam como um sistema de empréstimo, em que os livros são devolvidos no final do ano letivo, para serem reutilizados posteriormente. Mas são "contra a reutilização dos manuais no 1.º ciclo". Por isso, no ano passado, quando David andava no quarto ano, compraram-lhe os livros e também não utilizaram o voucher. "Os alunos dessas idades ainda não são autónomos e é mais difícil cuidarem dos manuais. Além disso, os próprios livros têm muitos espaços para pintar e completar e isso limita-os", adianta Lucília.
manuais desadequados
No entender do casal, há duas hipóteses para resolver o problema do 1.º ciclo: "Ou as editoras passam a fazer manuais mais informativos, com todos os exercícios noutro manual à parte, ou o Governo não emprestar, mas sim oferecer os livros a esses alunos".
Hoje, David, Tomás e Eduardo regressam às aulas. O mais velho é o que mostra menos entusiasmo, pois irá enfrentar o 12.º, "um ano de decisões". Mesmo assim, apresenta-nos um sorriso, tal como os irmãos. No total, a família estima que os gastos com o material escolar, para os três, "não devem ultrapassar os 200 euros".