Professores em luta manifestaram-se este sábado, em Lisboa, contra as alterações aos concursos proposto pelo Governo. Saíram à rua vindos de todo o país para reivindicarem melhores condições de trabalho.
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Professores vindos de norte a sul do país concentraram-se, ao início desta tarde, na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, num protesto contra a precariedade da profissão e as alterações aos concursos, convocado pelo Sindicato de Todos os Professores (STOP). "De facto, confesso que este mar de gente surpreendeu. São milhares de professores e educadores de todo do país que estão aqui a demonstrar defender a escola pública com toda a nossa força", disse, ao JN, André Pestana, coordenador do STOP.
Muitos destes profissionais têm estado em greve por tempo indeterminado desde a semana passada, em especial contra proposta do Ministério da Educação de que a gestão e recrutamento de professores, tanto efetivos como contratados, seriam transferidas para as autarquias. "Esta mudança da gestão de recursos é mais uma ofensa e um atropelo à nossa dignidade", sublinhou, ao JN, Cristina Domingues, professora e dirigente do STOP.
O sindicado entregou já pré-avisos de greve para todo o mês de janeiro, em que se iniciará o 2.º período letivo."Vamos fazer um plenário em frente à Assembleia da República. Nós temos uma proposta para continuar a luta, mas quem decide são eles", avançou André Pestana, referindo-se aos milhares de profissionais que empunhando cartazes e faixas ao som de apitos e tambores se preparavam para marchar até ao Parlamento, onde reuniram em plenário a céu aberto até ao final da tarde.
Recorde-se que a greve iniciada no dia 9 de dezembro, prolongada até à última sexta-feira, encerrou de escolas por todo o país e muitos alunos não tiveram aulas. "Nós percebemos desde o início que as pessoas iam aderir à greve. Teve uma adesão em crescendo porque os professores chegaram a um ponto de esgotamento e de exaustão", afirmou Cristina Domingues.
Esta semana o ministro da Educação desmentiu o sindicato sobre os concursos, afirmando que "o recrutamento dos professores nunca será municipalizado". João Costa mostrou-se surpreendido com a paralisação, avançando que estão a decorrer negociações com os sindicatos, nas quais garantiu que o executivo está de "boa-fé".
Para a dirigente, são os "vários problemas que os professores vivem" que os fizeram sair à rua. "Estão aqui milhares de professores que fazem 150 até 300 km por dia para dar aulas. Temos colegas com horários incompletos e com salários que não dão para viver. Temos colegas deslocados que têm de alugar uma segunda casa e, fazendo as contas ganham menos do salário mínimo", apontou Cristina Domingues.
Além de exigirem que o recrutamento se mantenha como previsto atualmente, os profissionais querem um aumento salarial, a recuperação de todo o tempo de serviço que esteve congelado e o fim das quotas na avaliação e no acesso ao 5.º e 7.º escalões da carreira.
Manuela Laranjeira, 58 anos, é professora de português e de inglês na Escola Básica de Fermentelos, em Águeda, no distrito de Vila Real. Juntou-se à manifestação depois de ter estado em greve durante dois dias pelo fim às quotas e contra a nova proposta de recrutamento. "Em 2012 não pude progredir de escalão devido às quotas. Só há quatro anos, em 2018, quando recuperámos parte do tempo de serviço é que essa possibilidade me foi dada", contou ao JN.
A professora do 2º ciclo teme que o Governo siga em frente com a municipalização do recrutamento. "Nós vamos ser colocados onde fazemos falta para completar os horários. Essas colocações vão implicar que eu tenha amizades muito direta com as câmaras e que não seja colocada pela minha competência e pelo meu serviço ao longo de mais de 30 anos", defendeu. A professora admite que, enquanto nada for feito, continuará em protesto. "Vamos continuar a fazer o que for preciso para ver se o nosso ministro acorda e compreende que a escola pública está um caos".
Para além da marcha de professores em Lisboa, técnicos de educação concentraram-se, esta manhã, em frente à Câmara Municipal do Porto pelo fim da precariedade. Os psicólogos, assistentes sociais, terapeutas da fala, intérpretes de língua gestual, educadores sociais e animadores socioculturais exigem uma carreira e a colocação em escolas mais perto de casa. Estes profissionais são ainda contra a sua inclusão no processo de municipalização dos concursos.