<p>Um conjunto de 20 aguarelas em tamanho A4, inspiradas nos "Mistérios do Rosário", vai ser oferecido pelos bispos portugueses a Bento XVI no próximo dia 13, em Fátima. O trabalho foi encomendado a Avelino Leite, pintor de Santo Tirso, que se afirma orgulhoso.</p>
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Não quer ser conhecido como "o pintor do Papa", mas admite que foi com orgulho que, há cerca de dois meses, recebeu o desafio de D. Carlos Azevedo, coordenador-geral da organização da visita do Papa a Portugal e seu amigo pessoal, para que fosse o autor da prenda dos bispos portugueses a Bento XVI. O único requisito foi que o trabalho versasse sobre "Os Mistérios do Rosário", mas Avelino Leite, 56 anos, garante que teve "total liberdade criativa" por parte da Igreja. "Só podia ser assim".
Pensa que foi o facto de ter vários trabalhos em igrejas no Norte do país (tem vitrais em Vizela e painéis cerâmicos em Ermesinde, entre outras) e de ter sido o autor, em parceria com o escritor Mário Cláudio, dos 15 painéis da Via Sacra da capela do Hospital de São João, no Porto, que fez com que a Igreja o escolhesse para esta missão. E também porque "não há em Portugal muita gente a trabalhar em arte sacra contemporânea".
Com a noção da responsabilidade de estar a trabalhar para "o mestre da Igreja Católica" e "um homem da cultura", Avelino Leite entregou-se com todo o rigor a este trabalho. Começou por estudar, pesquisar e conversar com "pessoas amigas do meio" sobre o significado de cada uma das 20 cenas dos "Mistérios do Rosário", que estão organizados em quatro grupos: dolorosos, gloriosos, gozosos e luminosos. Um tema com "múltiplas interpretações e significados", mas que se baseia em factos da História da Igreja, pelo que a sua preocupação foi "não falhar" na mensagem principal, mas deixar a sua marca pessoal no trabalho criativo. Ela está patente em múltiplas cenas, como por exemplo na "Coroação de Nossa Senhora" - onde no lugar da tradicional coroa pintou estrelas - ou no "Baptismo", onde, em vez da imagem de São João e da concha usada para baptizar Jesus, colocou uma cascata de água a cair sobre Cristo. "As manifestações artísticas não têm de ter uma leitura razoável", diz, justificando o facto de a leitura, por vezes, não ser imediata e propiciar diferentes interpretações.
Admite que esta tarefa o vai "marcar pessoalmente" - até pela forte probabilidade de a sua pintura vir a ser exposta no Museu do Vaticano -, mas diz que a sua principal preocupação foi "responder da melhor maneira e com todo o rigor" a quem o procurou. "As consequências, se as houver, aceitarei com todo o gosto".