O que vai acontecer aos cerca de cem sacerdotes acusados de abusos sexuais e que estão no ativo? Esta é uma das perguntas a que os bispos portugueses começam, esta segunda-feira, a dar resposta na reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em Fátima.
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Desde que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica tornou público o relatório com 512 testemunhos no total de 4815 vítimas, são esperadas tomadas de posição por parte dos responsáveis da Igreja Católica em Portugal.
Um grupo de especialistas estrangeiros está a ajudar os bispos a prepararem respostas para a realidade dada a conhecer pela Comissão Independente. A "ferida aberta que dói e envergonha", como referiu D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), já foi sentida na Irlanda, Austrália, França, Alemanha e Estados Unidos onde vários organismos revelaram o número de crianças e jovens abusados por membros do clero. Em comum, em todos estes países, houve pagamento de indemnizações às vítimas, vários padres estão a responder a processos civis e canónicos e o ingresso no seminário, bem como a formação dos futuros padres, estão a ser repensados.
Durante o tempo em que esteve em funções, a Comissão Independente recebeu o apoio técnico da comissão alemã que investigou os abusos sexuais, sobretudo, na arquidiocese de Munique e Freising. Os bispos portugueses deverão seguir, de uma forma geral, o que está a ser feito em outros países, em particular na Alemanha e em França.
Papa recusou resignação
Na Alemanha, em junho de 2021, o Papa Francisco recusou a resignação do Cardeal Reinhard Marx, atual arcebispo da Arquidiocese de Munique e Freising e coordenador do Conselho para a Economia. O prelado tinha apresentado o pedido de renúncia do cargo devido à "falha sistémica e institucional" da Igreja em lidar com os casos de abusos sexuais que tinham ocorrido na cidade alemã de Colónia. A decisão do Papa foi criticada por quem queria ver os bispos a ser responsabilizados pelos abusos. Francisco não aceitou e há responsabilidades que, agora, estão a ser apuradas pelos tribunais.
Também em 2021, uma comissão independente revelou que, desde 1950, 216 mil crianças e adolescentes tinham sofrido abusos por padres e religiosos em França. Para dar resposta às vítimas, os bispos franceses criaram a Comissão de Reconhecimento e Reparação. Uma estrutura nova a quem cabe, entre outras ações, avaliar as indemnizações a pagar. Neste momento, o valor médio ficará nos 37 mil euros para cada vítima.