O fecho das farmácias dos hospitais de S. José e dos Capuchos e a concentração da dispensa de medicamentos de ambulatório no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, estão a deixar os doentes com VIH insatisfeitos.
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Os utentes queixam-se das deslocações que passaram a ter de fazer para levantar a medicação após as consultas, da falta de privacidade do espaço, do serviço ser demorado e de não conseguirem integrar o programa de dispensa de medicamentos em proximidade (PDMP). O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, que agrega as três unidades, adianta que o programa que permite levantar a medicação numa farmácia perto de casa já ajudou 10 mil utentes e será alargado este ano.
"Esta situação está a condicionar o acesso ao tratamento das pessoas com VIH, contribuindo para a falta de adesão à terapêutica e com possíveis graves consequências para a saúde individual e pública", explicou, em comunicado, João Brito, do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), uma das duas organizações que compõem o Centro Antidiscriminação VIH (CAD). Segundo o responsável, o CAD já recebeu "48 queixas sobre dificuldades no levantamento de medicação, falta de acesso ao PDMP e interrupções de tratamento".
"Programa esgotado"
Para Ana Duarte, da Ser+ (Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA), "esta decisão motivou reações de desagrado dos doentes pelas dificuldades no levantamento dos medicamentos".
Ana Duarte realça que a situação é agravada pelo "esgotamento do PDMP" e o "incumprimento do despacho", que estabelece que a terapêutica antirretrovírica deverá ser dispensada para um período mínimo de 90 dias. A responsável nota que o CAD contactou a administração do centro hospitalar por duas vezes, "sem qualquer resposta formal até ao momento".
Ao JN, o centro hospitalar explicou que a farmácia de ambulatório central, a funcionar no Curry Cabral desde 2 de novembro de 2022, nasceu da necessidade de melhorar o atendimento dos doentes e foi planeada de raiz para o atendimento ao público. Relativamente ao PDMP, referiu que abrange mais de 10 mil doentes, de norte a sul do país e ilhas, e "encontra-se a funcionar, sem constrangimentos". "A intenção do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central é alargá-lo durante este ano".