"Esta é a única cimeira que interessa". Ativistas marcham em Lisboa por resistência climática
Cerca de oito dezenas de manifestantes protestaram esta tarde de sábado por Lisboa em nome da resistência climática, envolvendo a sociedade civil num "plano de desarmamento fóssil". O protesto, organizado pelo Climáximo, acontece ao mesmo tempo que na COP28 se vive um impasse na eliminação pelos combustíveis fósseis.
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A luta pela crise climática saiu novamente às ruas este sábado à tarde, em Lisboa, contra as “armas de destruição em massa" que aumentam as emissões de dióxido de carbono e que contribuem, assim, para o agravamento das alterações climáticas. O protesto aconteceu a três dias do fim da 28.ª Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP28), no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde as negociações sobre a eliminação dos combustíveis fósseis decorrem lentamente.
Sinan Eden, ativista do Climáximo e um dos porta-vozes da ação, afirmou, em declarações ao JN, que este protesto no centro da capital por resistência climática “é a única cimeira pelo clima que interessa”. “É a única feita pelas pessoas, pelos trabalhadores, pelas mães, crianças e adultos. Por toda a gente, por nós. É a única cimeira que vai dar qualquer resultado”, defendeu.
“Desarmar as armas” e “Estão em guerra com a vida” são algumas das frases que se podem ler nas faixas e bandeiras que os manifestantes se fizeram acompanhar na iniciativa. “Quando dizemos que declararam guerra contra a sociedade, contra as pessoas e contra o planeta, nós estamos a dizer que isto é um ato de violência deliberada e coordenada”, afirmou Sinan Eden, insistindo que, desde a década de 70, os governos e empresas conhecem "o impacto e as consequências" da exploração de combustíveis fosseis, e, mesmo assim, permitiram que se mantivesse nos últimos 50 anos.
Para o ativista, o facto de a COP28 ser presidida pelo CEO de uma petrolífera é sinal da inação climática que têm vindo a denunciar ao longo deste ano nas ações do coletivo.
"Plano de Desarmamento Climático"
A marcha arrancou do Saldanha até ao Marquês do Pombal, onde, numa das faixas da rotunda, já sentados no chão, abrigados da chuva por guarda-chuvas e impermeáveis, os manifestantes discutiram, em grupos de quatro a cinco elementos, numa assembleia popular, um “Plano de Desarmamento Climático”. A ação, embora autorizada, foi vigiada de perto e atentamente pelas dezenas de agentes da PSP na rua.
Entre as medidas propostas constam o fim dos subsídios em combustíveis fósseis, no setor da aviação e da agropecuária, bem como outras com vista a travar as emissões de CO2 associadas ao luxo como jatos privados. Os manifestantes contestam ainda a construção de infraestruturas poluentes como um novo aeroporto de Lisboa e a expansão do terminal de gás natural liquefeito (GNL) em Sines.
“Este é um dos momentos em que fomentámos o debate sobre a crise climática e o que é que nós vamos fazer em relação a isso”, explicou o ativista. A ideia é que as prioridades aprovadas esta tarde sejam as que irão mover o coletivo por justiça climática no próximo ano. No final do protesto, que terminou com uma marcha pela Avenida da Liberdade até aos Restauradores, os ativistas recolheram as intenções de votos dos manifestantes. Da assembleia saiu como prioridade a produção de eletricidade 100% renovável e acessível até 2025, mas o fim de investimentos públicos em combustíveis fósseis e a criação de uma rede de transportes coletivos públicos, elétricos e gratuitos foram também das propostas mais votadas.
Foram várias as pessoas que passaram pela ação na Praça do Marquês de Pombal, fora do perímetro criado pela polícia, e, curiosas, pararam para observar e perguntar o que estava a acontecer. “Esta é a luta pelas nossas vidas, o que é que tu vais fazer?”, foi o desafio que os ativistas lançaram nos panfletos explicativos que distribuiram durante a tarde aos civis.
Quanto à tímida adesão da sociedade civil à iniciativa, Sinan Eden aponta que esta é uma luta em que é preciso envolver milhões de pessoas, por isso, "o que interessa é falar sobre a crise climática em todos os espaços, em todas as alturas, com todas as pessoas à nossa volta”.
Fracasso das COP
Na manifestação estiveram ainda presentes representantes do Partido Ecologista "Os Verdes", da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, dos coletivos de combate à crise da habitação Habita e Stop Despejos, e dos grupos ativistas Greve Climática Estudantil e Scientist Rebellion Portugal.
Teresa Santos, porta-voz da Scientist Rebellion Portugal, alerta que “as últimas décadas têm sido décadas de fracasso, em que não há nenhum país a agir segundo o Acordo de Paris e não há ambição para tal”. Perante o cenário de colapso climático, "temos de tomar o estudo nas nossas mãos", defendeu a bióloga, salientando que no ínicio desta semana foi conhecida "uma carta assinada mais de mil cientistas, incluindo 33 autores do IPCC [Painel Intergovernamental Sobre as Mudanças Climáticas]" que dá conta como o que tem sido ambicionado pelos próprios países nas cimeiras tem fracassado, apelando a sociedade civil para tomar ação.
Face ao estado de crise climática, também a Quercus está alinhada com a maioria das reivindicações do protesto, como “o facto de uma redução da aviação ser fundamental", apontou a porta-voz, Sílvia Moutinho. “Estamos a viver as alterações climáticas. Tivemos o verão mais quente, e, seguramente, vamos ter o ano mais quente. Qualquer ação que desperte as pessoas, que parecem achar que não é nada com elas, é importante”, frisou.