Nos primeiros nove meses deste ano nasceram menos 775 bebés do que em igual período do ano passado, num recuo de 1,2%.
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Para este resultado muito contribuiu a quebra de 3% registada em Lisboa, a grande alavanca da natalidade em Portugal, responsável por 29% dos nascimentos no nosso país.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, até setembro deste ano houve 64 390 recém-nascidos a fazerem o teste de pezinho. Numa análise distrital, e em termos absolutos, em Lisboa foram testados menos 666 bebés, numa queda de 3% face a período homólogo de 2019. Em sentido inverso, no Porto, o segundo distrito com mais nados-vivos, nasceram mais 154 crianças.
E se Setúbal havia já ultrapassado Braga, o certo é que os dados do Programa Nacional de Rastreio Neonatal mostram agora uma inversão, com Setúbal a registar menos 99 nascimentos, enquanto em Braga se verificou um crescimento de 1%.
De referir, ainda, o facto de distritos como Castelo Branco, Portalegre, Vila Real ou Beja registarem um aumento de nados-vivos. O que não acontece em Bragança, com apenas 437 bebés rastreados pelo teste do pezinho (-13%).
Mães ainda mais tarde
Dados que não medem (nem poderiam) o impacto da pandemia. Sendo já um dado adquirido para os demógrafos que os impactos, nomeadamente económicos, da pandemia vão alterar as relações sociais e de conjugalidade dos portugueses. O que poderá ditar, tal como aquando da última crise financeira, um adiamento da maternidade. Adiamento esse que pode significar nascimentos perdidos.
Perdidos na medida em que as portuguesas são mães cada vez mais tarde. No ano passado, a idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho estava nos 30,5 anos, quase mais dois anos do que em 2019. Idade que sobe para os 32,1 anos se analisada apenas a média ao nascimento de um filho.
De referir, ainda, que, de acordo com os dados do gabinete de estatísticas europeu, Portugal é o quarto país da União Europeia com a mais baixa taxa de fecundidade, indicador que contabiliza o número de nascimentos por cada mil mulheres em idade fértil (15-49 anos). No caso português, ficou-se pelos 37,9%, só sendo suplantado por Itália, Espanha, Grécia e Finlândia. No início deste século estava nos 45,9%.
A manter-se a evolução revelada pelos dados dos testes do pezinho, o país arrisca-se a, pela segunda vez, assistir a uma quebra da natalidade. A pressão mantém-se sob os fluxos migratórios que, em 2019 e pela primeira vez em dez anos, conseguiram atenuar o impacto do saldo natural - negativo há 11 anos - e permitir um crescimento efetivo da população de 0,19%.
A saber
86579 nascimentos registados no ano passado em Portugal, menos 441 do que em 2018. Longe vão os anos em que nasciam mais de 100 mil bebés. A última vez que tal aconteceu foi em 2010.
Saldo migratório
Fechou em 2019 positivo em 44,5 mil pessoas. Mede a diferença entre entradas e saídas de população. Os imigrantes são determinantes na natalidade.
Saldo natural
Apesar de se terem registado menos óbitos em 2019, o número de nascimentos também caiu, o que coloca o saldo natural negativo desde 2009.