Estudantes dos 1.º, 5.º e 10.º ano arriscam não ter computadores no início das aulas
Escolas garantem estar sem meios humanos para preparar as 300 mil máquinas devolvidas.
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No início do próximo ano letivo, poderá haver alunos do 1.º, do 5.º e do 10.º anos sem computador emprestado pelo Estado. As escolas estão a receber centenas ou milhares de máquinas, devolvidas por alunos que terminam um ciclo de estudos e por professores, e veem-se a braços com a falta de técnicos de informática capazes de as preparar antes do próximo ano letivo. O Ministério da Educação lembra que, em março, as escolas puderam contratar técnicos e podiam ter optado por informáticos.
No espaço de poucas semanas, as escolas terão que receber, verificar, formatar e instalar software em cerca de 300 mil máquinas. "Poderá haver escolas sem capacidade para preparar todos os computadores", admite Filinto Lima, presidente da Associação de Diretores (ANDAEP). Fernanda Ledesma, da Associação de Professores de Informática, subscreve: "É uma possibilidade real".
O Estado emprestou diferentes tipos de computador aos alunos com Ação Social Escolar do 1.º ciclo, dos 2.º e 3.º ciclos e do Secundário e a professores. Por isso, quando um aluno muda de ciclo (ou de escola, tal como os professores), devolve todo o equipamento emprestado: auscultadores, rato, hotspot ou mochila, além do computador.
Num primeiro passo, a escola verifica se tudo é entregue e se os computadores funcionam. Os diretores ouvidos pelo JN asseguram que, em regra, aparentam estar em bom estado.
O segundo passo implica ações como formatar o disco e reinstalar software. "É um trabalho complicado, moroso e de responsabilidade. Contamos com a boa vontade de todos, não têm a obrigação de o fazer", diz Manuel Pereira, da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE). E a partir do próximo ano, lembra Fernanda Ledesma, é expectável que se multipliquem avarias e comece a ser necessário fazer trabalhos de manutenção.
Um técnico por agrupamento
Na escola que Manuel Pereira dirige, em Cinfães, a preparação dos computadores foi entregue a assistentes operacionais. Em Lisboa, no agrupamento D. Dinis, será o departamento de TIC a fazê-lo. "É uma área com falta de professores e os que temos estão em aulas, nas equipas dos exames nacionais ou em avaliações e reuniões", diz o diretor José António Sousa. Por isso, prevê só em setembro poder preparar as máquinas.
Já em Gaia, no agrupamento Dom Pedro I, o diretor nota que alguns computadores são devolvidos por estrear - sinal de que os pais tiveram receio de ter que o pagar, se o filho o danificasse. Os restantes estão a ser preparados por três professores de TIC. "Somos pau para toda a colher, mas temos que cumprir, por mais que custe", resumiu António Duarte.
Para fazer face ao trabalho implícito à presença de centenas de milhares de computadores na escola, a Associação de Professores de Informática e a ANDAEP reclamam a "colocação urgente" de um técnico de informática em cada agrupamento.
Ao JN, o gabinete de Tiago Brandão Rodrigues avançou que, em março, autorizou a contratação de um assistente técnico por agrupamento, "tendo em vista aproveitar as oportunidades da sociedade digital". Cada escola pôde escolher o técnico a contratar. Ricardo Silva, diretor do agrupamento A Lã e a Neve, da Covilhã, avançou por que razão as escolas não optaram pela informática: "Estávamos em pandemia, entendemos que era mais importante ter psicólogos ou assistentes sociais".
À lupa
Lançado concurso para mais 600 mil equipamentos
A "ambicionada universalização" de equipamentos e acesso online, prometida pelo primeiro-ministro em março de 2020, vai ser concretizada no próximo ano letivo, assegurou Brandão Rodrigues. O Governo já lançou o concurso para a aquisição de mais 600 mil computadores que se irão somar aos 450 mil já distribuídos por alunos e professores.