Milhares de estudantes do Ensino Superior manifestaram-se por todo o país, nesta quinta-feira, véspera do Dia Nacional do Estudante, exigindo o fim das barreiras no acesso ao Ensino Superior e denunciando que o agravamento do custo de vida ameaça a continuidade dos estudos. No Porto, centenas de universitários fizeram-se ouvir, numa concentração que começou às 16 horas, em frente à Reitoria da Universidade do Porto.
Corpo do artigo
Na Praça de Gomes Teixeira, em frente à Reitoria da Universidade do Porto, centenas de universitários gritavam "estudantes unidos jamais serão vencidos", "propinas e Bolonha é tudo uma vergonha". Apontavam a necessidade de melhorar a qualidade do ensino e reclamavam das dificuldades de acesso e de permanência no ensino superior.
Francisco Pedro, de 22 anos, é estudante do mestrado de Ensino de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Natural de Alcobaça, e sem direito a bolsa, explica o que o levou a juntar-se à manifestação. "Sendo eu um estudante deslocado, para além de ter de pagar todos os custos associados ao ensino, como as propinas, tenho também de suportar as despesas de deslocação e habitação, sem ter qualquer tipo de ajuda", lamentou.
Com o crescimento galopante da inflação, Francisco Pedro diz que teve necessidade de fazer cortes na sua rotina para poder pagar as despesas da habitação no final do mês. "Mudei os meus hábitos alimentares e deixei de fazer algumas atividades para poder poupar dinheiro", contou.
Constança Viegas Martins é representante da Direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, tem 21 anos e está a licenciar-se em artes plásticas na especialização de multimédia e realça a importância na "participação dos estudantes nesta luta".
Já Joana Teixeira, de 22 anos, também estudante na FLUP, garante que "são diversos os estudantes que desistem da faculdade por não poderem pagar as propinas". Entende que "como o ensino é um direito constitucional, o Governo têm de assegurar meios para que esse direito seja cumprido".
Sónia Duarte, de 50 anos, é professora no distrito do Porto e, até há bem pouco tempo, foi estudante bolseira de investigação. Presente na manifestação, disse estar "completamente solidária" com os estudantes, "até porque os estudantes estão a ver o seu direito à educação a ser posto em causa". "Para solucionar estes problemas não basta abrir vagas para o ensino superior. É necessário criar também condições de frequência para que todos, independentemente da sua condição financeira, tenham o direito de frequentar qualquer grau de ensino", defendeu.
Para além da questão dos elevados preços da habitação e das residências estudantis, os estudantes exigem também refeições gratuitas nas cantinas dos estabelecimentos de ensino, pois "apesar de ter preços mais reduzidos do que nos restaurantes, a alimentação também se torna um fator que leva os alunos a abandonar o ensino".
Preocupados com o futuro, os estudantes também aproveitaram para protestar contra as novas regras de acesso ao ensino superior, que vão entrar em vigor no ano letivo 2024/2025. "Está é uma norma elitista que irá limitar o acesso de muitos alunos ao ensino superior e, para além do mais, põe em causa a metodologia da avaliação contínua".
Protesto até ao Parlamento
Em Lisboa, centenas de estudantes manifestaram-se num protesto que começou na Faculdade de Belas Artes, pelo fim das "barreiras no ensino superior" e mais apoios.
O mote "Até quando o muro vai aumentar? Fim às barreiras no ensino superior" foi o escolhido para o protesto que se realiza na véspera do Dia Nacional do Estudante.
Pelas 14.30 horas já se juntavam em frente à Faculdade de Belas Artes algumas centenas de estudantes, enquanto outros tantos continuavam a chegar. Pouco depois das 15 horas iniciaram a marcha em direção à Assembleia da República.
"Educação é um direito, sem ela nada feito", "Governo, escuta, estudantes estão em luta" ou "Bolsas sim, propinas não" foram algumas das palavras de ordem que ecoaram pelas ruas de Lisboa e que já vêm decoradas de outras manifestações estudantis.
Os jovens reivindicam mais ação social, o fim das propinas, a revisão do regime jurídico das instituições de ensino superior, mas também soluções de alojamento estudantil, um problema que dizem ter-se vindo a agravar, decorrente da crise na habitação.