Há casos em que procura está cinco vezes acima de 2019. Pior resposta dos centros de saúde leva utentes às farmácias, que têm menos unidades. Vacinação da gripe arranca dia 28.
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As farmácias temem não conseguir dar resposta à procura de vacinas contra a gripe. A preocupação com a covid-19 e as dificuldades de atendimento nos centros de saúde estão a levar milhares de utentes a fazerem reservas de vacinas. Neste ano especialmente crítico, há também mais empresas a tentar encomendar doses para os seus colaboradores e mais interessados em vacinar-se, mesmo sem pertencer a grupos de risco. O receio das infeções respiratórias está ainda a fazer disparar a procura do "Broncho-Vachom", um medicamento de reforço do sistema imunitário que está permanentemente em falta nas farmácias.
Este ano, as farmácias vão receber perto de 500 mil doses de vacinas, menos do que no ano passado, e ainda não sabem ao certo quando chegarão as primeiras. No Serviço Nacional de Saúde, a primeira fase da campanha de vacinação contra a gripe arranca a 28 de setembro para idosos e grávidas, anunciou ontem a diretora-geral da Saúde. Graça Freitas pediu a todos os portugueses com indicação para se vacinar que não hesitem em fazê-lo. O objetivo é diminuir as infeções por gripe, cujos sintomas são muito parecidos com os da covid-19.
Empresas pedem milhares
"A procura de vacinas da gripe está cinco vezes superior à média", afirmou ao JN a coordenadora farmacêutica do grupo Sofarma, com farmácias no Porto, em Gaia, Matosinhos, Braga e Penafiel. Cláudia Cunha da Mota nota que "há muita gente que nunca tomou a vacina e que este ano quer" e, por outro lado, tem registado um aumento da procura por parte das empresas. "Temos muitas que nos ligam a tentar reservar mil vacinas, duas mil, e uma até tentou reservar cinco mil", refere.
Rita Araújo Monteiro, diretora técnica da Farmácia Saúde, em Leça da Palmeira, teme que as vacinas não sejam suficientes para tantos interessados. "Os armazenistas estão a informar as farmácias que têm duas vezes e meia mais reservas do que em 2019", explica. Este ano, a farmacêutica tem observado uma crescente procura por parte de doentes crónicos que normalmente são vacinados nos centros de saúde. "As pessoas não conseguem ligar para os centros de saúde, vão lá e não são atendidas e estão com medo de não conseguir a vacina. Mesmo sabendo que têm de pagar, preferem garanti-la na farmácia", afirma Rita Araújo Monteiro.
A presidente da Associação de Farmácias de Portugal confirma. "Alguns centros de saúde não estão a trabalhar em pleno e os cidadãos estão com receio do impacto na vacinação", refere Manuela Pacheco, acrescentando que há muita ansiedade sobre a chegada das vacinas. Pelo que observa e pelo feedback das farmácias associadas da AFP, Manuela Pacheco tem receio que o número de vacinas disponíveis não seja suficiente. "Podem escassear para utentes mais carenciados e de grupos de risco", admite.
Nuno Cardoso, presidente da Associação de Distribuidores Farmacêuticos, afirmou que este ano as farmácias terão "menos cerca de 100 mil vacinas do que no ano passado e a expectativa é de uma procura mais elevada".
Distribuidores e farmácias estão disponíveis para ajudar a que a imunização contra a gripe chegue a mais pessoas, através da rede de farmácias, mas a estratégia da Saúde parece ser outra. Ontem, Graça Freitas afirmou que está a ser planeado com as administrações regionais de saúde a ampliação dos pontos de vacinação, ou nos serviços de saúde ou "em outras estruturas da comunidade".