Doença mata cinco mil pessoas por ano e o seu pico costuma acompanhar o da gripe. Especialistas apontam custo elevado, mesmo com comparticipação. DGS diz que medida está a ser avaliada.
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A campanha da vacinação contra a gripe, recomendada principalmente para as populações de maior risco, arranca hoje, mas os especialistas defendem que estas pessoas também deviam ser vacinadas contra a pneumonia. A doença costuma acompanhar os picos de gripe e este ano, por causa da pandemia de covid-19, consideram a utilização da vacina ainda mais importante do que em anos anteriores, para prevenir uma sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O problema é que a vacina (só uma é comparticipada) apenas é gratuita para um grupo restrito de doentes, além das crianças até aos cinco anos, o que leva os clínicos a temer que muitos dos que a deviam receber não o façam por razões económicas.
Em resposta ao JN, a Direção-Geral da Saúde (DGS) explica que "avaliação da possibilidade de implementar a vacinação dos indivíduos com 65 ou mais anos de idade com uma vacina pneumocócica conjugada ainda não foi concluída no âmbito da Comissão Técnica de Vacinação". Desde abril de 2019 que esta possibilidade está a ser avaliada, sem que tenha sido apresentada uma conclusão.
Não protege da covid-19
Sublinhando, porém, que a vacina não protege contra a pneumonia provocada pelo vírus SARS-Cov-2, a DGS acrescenta que está ainda a ser ponderada a inclusão de "grupos de risco clínico e da população-alvo com acesso à vacinação gratuita" nesta medida.
De acordo com José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), a pneumonia é responsável pela morte de cinco mil portugueses por ano. E já há alguns anos que a fundação reclama que seja gratuita para as pessoas com mais de 65 anos ou com outras doenças crónicas além das que já são consideradas.
"Este ano, vamos ter picos de covid-19, gripe e pneumonia. Quais é que podemos evitar? A gripe e a pneumonia. Obviamente, temos que fazer a vacinação da gripe e da pneumonia tão amplamente quanto possível", frisa o pneumologista.
pREÇO ELEVADO
As duas vacinas no mercado custam entre 28 e 33 euros. Valor que para Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, "é um bocado contraditório com aquilo que é uma vacina", que se pretende que seja de utilização massiva.
O médico de Coimbra costuma recomendar a sua utilização a todos os doentes com mais de 70 anos, que tenham patologias como a diabetes e a doença pulmonar obstrutiva crónica, quando percebe que têm condições económicas para a adquirir. "Mas mesmo aqueles a quem eu prescrevo, acredito que depois alguns não o façam", por razões económicas, revela, por terem "muitas despesas com medicamentos".
"Os idosos morrem de pneumonia quase sem nós darmos conta. Não fazem febre, têm a tosse habitual e, de um momento para o outro, ficam com falta de ar. Quase não nos dá tempo de atuar", alerta. Rui Nogueira deixa a questão: "Até que ponto é justo termos um calendário vacinal tão perfeito nas crianças quando depois nos idosos não incluímos uma vacina que é recomendada mas tem um preço elevadíssimo?".