A pandemia da covid-19 levou à alteração de vários hábitos, sendo um deles a higiene oral. A redução da frequência da lavagem dos dentes e da utilização de fio dental são algumas dessas mudanças, revelou um estudo do centro de investigação da Egas Moniz School of Health and Science.
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Ainda assim, Eduardo Guerreiro, investigador, reforça que o medo e a falta de literacia podem ter sido os fatores preponderantes.
A pandemia da covid-19 trouxe muitas alterações no quotidiano das pessoas. Esta mudança no estilo de vida teve um grande impacto na higiene, tanto para o bem como para o mal.
Se em 2020 a maioria da população tinha muito cuidado com a lavagem das mãos, após os hábitos ganhos na pandemia, este estudo revela que as práticas de higiene oral pioraram. O centro de investigação da Egas Moniz concluiu que a pandemia levou à redução destas práticas e chama à atenção para a necessidade de soluções.
Medo e falta de literacia
O investigador Eduardo Guerreiro acredita ainda que, entre as explicações para estes resultados, podem estar o medo e a falta de literacia. Ao JN, referiu que "os serviços de saúde oral foram encerrados por despacho de Conselho de Ministros e a medicina dentária classificada como uma profissão de alto risco pelo que, naturalmente, este mediatismo levaria a uma maior insegurança na busca dos cuidados de saúde oral".
Além disso, “a redução dos hábitos de higiene oral pode ser explicada pelas alterações de hábitos e até mesmo crenças que as restrições impuseram”, disse o investigador.
Os dados foram recolhidos no momento da primeira consulta, através da observação clínica e a realização de conjunto de questões, não só demográficas mas também de hábitos de higiene, alimentação, entre outros.
Este estudo, que abrangeu mais de 3 mil pessoas da Área Metropolitana de Lisboa, notou uma diminuição significativa na escovagem dos dentes e no uso de fio dentário. Contudo, o número médio de cáries diminuiu, enquanto o registo de dentes perdidos subiu bastante.
O investigador alertou para o facto de que “se existem menos dentes existem menos cáries”. Assim sendo, a percentagem de participantes com algum grau de exposição a cáries estabeleceu-se quase nos 90%, mas esse número traduz-se numa descida.
Os dados foram analisados de três formas: o total da população em estudo, a amostra de dados antes das restrições da pandemia e no pós. Assim sendo, o estudo apontou que, atualmente, 75.6% da amostra escovava os dentes 2 a 3 vezes por dia. Contudo, antes da pandemia, esse número situava-se nos 81.2%, tendo descido para 64.2% após a pandemia.
Muitos dos jovens saudáveis acabaram por procurar cuidados após o fim do confinamento, revelando a falta de cuidados orais durante esse período, que levou ao aumento ou à progressão de doenças já instaladas na cavidade oral.
É neste sentido que Eduardo Guerreiro sublinha “a necessidade de abordagens diferenciadas para a compreensão e atenuação das disparidades nos resultados da saúde oral, especialmente no contexto de alterações no estilo de vida provocadas pela pandemia”.
Em declarações ao JN, realça ainda "a importância da educação em saúde", bem como "não esquecer os grupos mais vulneráveis da população, quando se reflete sobre medidas de saúde pública”.
Além disso, no comunicado de imprensa enviado esta terça-feira, na véspera do Dia Mundial da Saúde Oral, o centro de investigação relembra o apelo feito pela Organização Mundial de Saúde para que o mundo esteja melhor preparado no que diz respeito à prevenção de futuras pandemias.