Na segunda-feira foram atendidas 34 mil pessoas, um máximo desde março. Unidades esforçam-se para arranjar mais camas e estão com falta de pessoal.
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Há dez meses que não se via igual. A procura dos serviços de urgência disparou na segunda-feira. Houve mais de 34 mil episódios de urgência, um número recorde desde que a covid-19 chegou ao país e afastou as pessoas dos hospitais.
A elevada afluência às urgências é habitual nesta época do ano, por causa do frio e da gripe. Este ano, praticamente ainda não há gripe, segundo o último boletim do Instituto Ricardo Jorge, mas o aumento do número de novos casos de covid-19, a necessidade de manter os circuitos separados e o distanciamento entre camas está a pressionar os serviços e a deixá-los sem camas para internamento. E também lhes falta pessoal.
"Os recursos humanos que existem estão em esforço em todas as unidades hospitalares. A carência de recursos humanos é uma realidade evidente", disse ontem o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Carlos Santos, admitindo que a "pressão" dos últimos dias "levou a que a capacidade de internamento esgotasse".
O diretor de medicina interna do CHUC, Armando Carvalho, reconhece que a "sobrecarga de trabalho para a Medicina Interna é brutal", realçando que os colegas estão cansados. "Praticamente ninguém na Medicina Interna tirou as férias que tinha marcado em dezembro", revela, apelando às pessoas para que sigam as recomendações das autoridades de saúde.
CODU desviou doentes
No total, na segunda-feira, foram atendidos 34 204 episódios de urgência, segundo o Portal do SNS. O gráfico que monitoriza a procura diária revela que desde 2 de março de 2020 (data do primeiro diagnóstico covid) que o número não era tão elevado (35 552).
Os números condizem com o cenário vivido em vários hospitais, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo. No Santa Maria, passou-se um dos dias mais complicados desde março, com 462 episódios de urgência, número que chegou a ser superado (por pouco) em dois dias de outubro, revelou fonte hospitalar.
Em Lisboa, houve pelo menos um hospital a pedir ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM para não enviar mais doentes e referenciar para outras unidades. A situação estará por agora mais controlada. Ao JN, o INEM garantiu ontem que todos os hospitais da Grande Lisboa estão a receber doentes urgentes da sua área de referência. Mas do Amadora-Sintra chegaram a ser encaminhados para o São Francisco Xavier, Santa Maria e S. José.
Coimbra abre lugares
Em Coimbra, as camas vão ser aumentadas de 161 para 230 para doentes estáveis, mas isso será feito "à custa de alguma atividade cirúrgica não essencial", explica o presidente do Conselho de Administração do CHUC, Carlos Santos.
Cinco camas na Guarda
O Hospital da Guarda tem apenas cinco camas livres para doentes covid-19, mas a administração garante o aumento de camas.
São João acima de 400
No Hospital de S. João, no Porto, na segunda-feira houve um total de 432 admissões na urgência, número que já foi superado pelo menos três vezes em dezembro: dia 28, foi o pior do mês, com 449 episódios de urgência.