Proposta do Governo indignou profissionais que esperam há mais de 20 anos por negociação. "Tudo tem um limite".
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A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) recusa a proposta do Governo de atirar para o final da legislatura a revisão da carreira daqueles profissionais que gerem serviços, unidades e departamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Se a negociação for adiada para 2025, trará "graves problemas para os hospitais" e "serão os doentes os mais prejudicados".
À espera da negociação há mais de 20 anos, os administradores hospitalares ficaram indignados com a proposta do Governo, apresentada anteontem pela secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires, numa reunião com os sindicatos do setor. "Não aceitamos este calendário de negociação, exigimos trabalhar de forma enquadrada na lei e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que o Governo entenda a importância e prioridade desta carreira", realça a APAH num comunicado.
Ao JN, o presidente da APAH, Xavier Barreto adiantou que se o Governo não antecipar o calendário, vão consultar os associados sobre as ações a desenvolver. "Somos dirigentes superiores da Administração Pública, nunca fizemos uma greve nem queremos fazer, mas tudo tem um limite", afirmou.
A falta de revisão da carreira impede, por exemplo, que os administradores hospitalares tenham uma avaliação de desempenho e progridam. "Quando uns discutem a contagem dos pontos, outros nunca tiveram pontos", sublinha, referindo-se a outras carreiras da função pública, para evidenciar as discrepâncias.
"Gestão será pior"
Xavier Barreto lembra que os hospitais gerem orçamentos de milhões e que é "um contrasenso" estar sempre a dizer que é preciso um SNS mais eficiente e depois não pôr a carreira destes profissionais no topo das prioridades.
"Se esta proposta vingar, serão os doentes os mais prejudicados. Sem administradores hospitalares a gestão será pior, os hospitais serão menos eficientes e menos produtivos, terão menos margem para investimento e darão menor resposta aos cidadãos utentes do SNS", diz o comunicado.
Os hospitais do SNS contam com "algumas centenas" de administradores que fazem a gestão de serviços, departamentos e unidades intermédias.
O JN perguntou ao Ministério da Saúde as razões para este prazo, mas não teve resposta em tempo útil.