Governo "das casas e casinhas" tem de definir "doutrina" sobre participação em empresas
O secretário-geral do PS afirmou, esta segunda-feira, que o Governo deve definir uma “uma doutrina” única para a participação de membros do executivo em empresas do ramo imobiliário, face aos casos que têm vindo a lume e ao que cada governante diz a respeito dos mesmos.
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Em reação às declarações da ministra da Justiça, que afirma não haver conflito de interesses na sua participação em quatro sociedades do setor, Pedro Nuno Santos considerou que este se tornou o Governo “das casas e casinhas”. Insistiu também que Luis Montenegro deve prestar esclarecimentos sobre quem são os clientes da sua empresa.
“Há um secretário de Estado que as criou [as empresas] depois de chegar ao Governo e que já todos nos esquecemos, saiu do Governo. Há um ministro da Coesão Territorial que entendeu que se devia desfazer da sua sociedade, há uma senhora ministra [da Justiça] que acha que não tem que fazer nada disso. Não sou eu que tenho de definir uma doutrina. Pelos vistos, cada membro do Governo tem uma doutrina diferente sobre o que é que devem fazer com as empresas imobiliárias”, declarou Pedro Nuno Santos, esta segunda-feira de manhã, em Valença.
“Dizia-se que o Governo anterior era um Governo de casos e casinhas, este é um Governo de casas e casinhas”, referiu ainda.
De visita a uma nova residência universitária de construção modular, que entende poder ser uma solução “mais barata, rápida e que requer menos mão de obra” para ajudar a resolver o problema da habitação em Portugal, Pedro Nuno Santos voltou ao tema dos últimos dias, o caso da empresa familiar do primeiro-ministro. Considerou que a Comissão Parlamentar proposta pelo Chega “não é o instrumento adequado”.
"Julgo que o senhor primeiro-ministro terá muitas oportunidades para acabar com o tema de uma vez por todas, esclarecendo quem são os clientes, que serviços foram prestados, qual foi o preço que foi cobrado. Isto é muito importante para que não reste nenhum tipo de dúvidas e de suspeição das avenças da empresa", insistiu.
“É normal que depois de termos descoberto que afinal de contas o primeiro-ministro, que nós pensávamos que era advogado, também é empresário, queiramos saber que empresa é essa, qual é a sua atividade, quais são os seus clientes”, sublinhou.
Construção modular como "exemplo de solução" para a Habitação
A nova residência universitária de Valença, que deverá receber os primeiros alunos no segundo semestre deste ano, foi assinalada hoje pelo secretário-geral do PS como exemplo de construção modular que pode ser adoptada para ajudar a resolver o problema da falta de habitação em Portugal.
O edifício foi construído em madeira e betão, em menos de um ano, e segundo Pedro Nuno Santos, reúne várias virtudes em relação ao modo de construção tradicional. Trata-se, segundo o grupo construtor (Casais), da “primeira obra pública com esta solução industrializada”.
“Visitar esta residência universitária em Valença é mostrar uma das modalidades para a construção em Portugal, que nos permite construir num prazo muito mais curto, com um custo inferior, com recurso na menos mão de obra. E, num contexto em que há escassez de mão de obra, também é uma vantagem”, destacou, notando ainda o aspeto da sustentabilidade ambiental.
Pedro Nuno Santos defendeu que “o conjunto de medidas adotadas por este Governo infelizmente não permite chegar a grande parte dos jovens”. “Há jovens que estão beneficiar das isenções do IMT e imposto de selo, mas há depois uma grande quantidade de jovens que não tem capacidade de endividamento ou salários que lhes permitam ter taxas de esforço para beneficiar da garantia pública. Portanto, nós continuamos a precisar cada vez mais de construção publica”, disse, considerando que esta “tem de escalar”, face ao baixo indicie da construção no país, que atinge “pouco mais de 20 mil casas do por ano”.
“Precisamos de aumentar muito este número, duplicar, triplicar, se fosse possível, porque precisamos de em pouco anos dar resposta às necessidades elevadas de habitação. Não só da população mais carenciada, porque o problema da habitação é da classe média, das famílias e filhos da classe média”, frisou, concluindo que “a construção modular é um dos exemplos de como podemos aumentar muito a construção e construir muito mais rápido, muito mais barato e com menos trabalhadores”.
A residência do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, visitada por Pedro Nuno Santos, tem 1200 m2, é composta por 24 quartos duplos e oito individuais, salas de estudo, cozinha e espaço de refeições e convívio, representando um investimento de cerca de dois milhões de euros. O projeto foi desenvolvido com base no sistema híbrido CREE Buildings, "que consiste numa solução de madeira e betão, mais sustentável comparativamente com o modelo tradicional, através da construção industrializada".
Residência em Beja
O grupo Casais, responsável pela obra, tem em marcha também outro projeto com o mesmo modelo, o da futura Residência Académica de Beja. A empreitada no Alentejo, cujo investimento ronda os 17 milhões de euros, tem uma área de 11 mil metros quadrados e três pisos elevados. A construção arrancou no início de 2024 e prevê-se que esteja pronta até ao final de 2025, para albergar 503 residentes distribuídos por 327 alojamentos.