Agricultores queixam-se do aumento de área de plantações de milho dizimadas e caçadores querem formar grupos com mais de 10 homens e 20 cães por montaria para deter praga.
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O Governo quer travar o número de acidentes rodoviários com javalis, que aumentam todos os anos. Os caçadores e os proprietários de áreas agrícolas, por seu lado, acusam o Estado de contribuir para que o número destes animais cresça desordenadamente, ao diminuir o número de homens e cães por caçada.
Entre janeiro e maio, foram registados 251 acidentes de viação com javalis nas áreas da GNR, sendo os distritos de Évora, de Santarém e da Guarda aqueles que registaram mais ocorrências. Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), no ano passado houve 560 acidentes, mais 27 do que em 2019. Viseu, Setúbal e Évora foram os mais castigados.
Desde o início de 2019 e maio de 2021, as autoridades foram chamadas para 5304 acidentes, provocando 240 feridos e uma morte, dos quais 1830 foram causados por animais selvagens.
Base de dados
O Ministério do Ambiente está a preparar novas medidas de prevenção de acidentes devido à travessia de javalis nas estradas. Já o ICNF concretiza que essas medidas vão ser implementadas no âmbito do Plano Estratégico de Ação do Javali em Portugal, atualmente em curso.
Pretende-se que seja criada uma base de dados dos acidentes rodoviários em Portugal provocados por javalis. Em estudo está também a realização de um censo nacional e a avaliação do estado biológico dos javalis e dos prejuízos provocados.
Ao manter as regras da caça em culturas agrícolas afetadas pela invasão dos javalis, o ICNF cravou um punhal nas costas dos caçadores e agricultores, que esperavam a revisão do número do confinamento: dez caçadores e dois cães cada um.
Desalento na caça
"Esperavam-se regras diferentes", afirma João Carvalho, da Associação Nacional de Proprietários Rurais (ANPC), que gere as ações de caça no país. O caçador diz que são necessários, pelo menos, 125 cães para que a caça numa plantação de milho seja eficaz. "É como uma floresta tropical, mas com maçarocas de milho. Não é possível, com 20 cães, cobrir a área toda", afirma.
Nos campos agrícolas, essencialmente no Centro e Sul do país, é o milho o mais afetado pela passagem dos javalis, já que é nas searas que os animais encontram as melhores condições para se alimentar. Os proprietários das zonas afetadas pediram, este ano, mais licenças de caça extraordinária de javalis do que no ano passado. O ICNF justifica o aumento, "não por haver mais prejuízos, mas pelas restrições decorrentes da pandemia".
Sobre os prejuízos, o Governo admitiu que são de milhões. Ao JN, o ICNF não quantifica, mas reconhece que "são avultados".
A Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (Apromis) diz que fez, há dois anos, um levantamento junto de 150 associados e chegou a um prejuízo a rondar um milhão de euros. "Tendo em conta que, nos últimos anos, a situação se agravou, já que a população de javalis aumentou e que, em Portugal, existem 67 mil produtores de milho, os danos causados são necessariamente superiores", calcula.
Cercas elétricas
Para defender as culturas, o Governo considera que os agricultores devem instalar cercas elétricas, mas a Apromis diz ser incomportável.
"Tanto do ponto de vista técnico, como económico, sobretudo em zonas de pequena e média propriedade". Outra solução passa pelos seguros de colheita, mas grande parte não adere por causa dos custos. A Apromis diz que, nos últimos anos, há um aumento das áreas de milho seguradas. "Mas existem restrições económicas dos proprietários de áreas de pequena e média dimensão".
Sofreu dois acidentes com animais selvagens na estrada
Luís Ferro, 48 anos, foi recentemente notícia no JN, porque sofreu dois acidentes de viação envolvendo animais selvagens e em nenhum deles conseguiu ser ressarcido dos prejuízos.
Os acidentes aconteceram, em 2019, na EN 253, entre Alcácer do Sal e Alcáçovas, durante a noite.
No primeiro caso, foi provocado por uma raposa que, depois de um ressalto, foi contra o guarda-lamas e uma roda do carro. Depois, numa noite de inverno, deu com dois javalis na mesma estrada. "Só tive tempo de travar e virar. Foi quando embati num deles", explicou. Mas não conseguiu ser ressarcido dos danos, porque os animais fugiram.