A greve dos médicos está a obrigar, esta quarta-feira, hospitais e centros de saúde a cancelar consultar e a adiar exames e cirurgias. A Federação Nacional dos Médicos, que convocou a paralisação, garante que há centros de saúde com uma adesão de quase 100% nas zonas Norte e Centro do país e hospitais a funcionar a meio gás. A estrutura sindical acusa ainda o ministério da Saúde de ter empurrado os profissionais para a greve.
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No Porto, o impacto da greve está a fazer sentir-se de forma diferente nas consultas e nos exames das várias especialidades. Nos hospitais de Santo António e de S. João, esta quarta-feira de manhã, houve utentes que conseguiram realizar exames e ter consultas. Outros regressaram a casa sem serem atendidos.
Maria Taveira foi uma das utentes do Hospital de S. João, no Porto, que viu a sua consulta e uma ecografia à tiroide adiados devido à greve. Estava à espera há um ano pelos atendimentos. "Não sabia que havia greve. O meu médico até me tinha mandado uma mensagem a dizer que a consulta ia ser via telefone. Havendo greve, já não se realiza", lamentou a utente, que reside em Vila das Aves.
A ecografia à anca de Franclim Melro também foi desmarcada. "Este exame era importante porque tenho consulta no dia 13 e o médico precisava de ver se preciso de ser operado ou não", contou.
No Hospital de Santo António, o cenário era semelhante. Isabel Rebelo e o marido de Rosa Leite viram as suas consultas de oftalmologia desmarcadas. Alfredo Teixeira ficou sem um atendimento de pneumologia. Era uma consulta de rotina. Ainda assim, entende as reivindicações que levaram à greve dos médicos.
"Estive oito dias internado no Santo António, antes do Natal. É uma realidade que os médicos trabalham quase sem condições nenhumas", referiu Alfredo Teixeira, de 67 anos.
De acordo com Joana Bordalo e Sá, presidente da Comissão Executiva da Federação Nacional de Médicos (FNAM), no Norte, a greve ditou o encerramento de blocos operatórios e "a esmagadora maioria dos centros de saúde estão com uma adesão de quase 100%". Sobretudo, revelou ao JN, nas zonas do Minho e de Trás-os- Montes. No IPO do Porto, por exemplo, "só está a funcionar o bloco de Urgência". Em Matosinhos, o bloco de ortopedia está encerrado. E, em Viana do Castelo, só entrou ao serviço "um colega de medicina interna em 55".
Rumo ao centro, detalha Joana Bordalo e Sá, há blocos fechados no Hospital Universitário de Coimbra. Também na zona Centro dos pais, a "maioria dos centros de saúde tem uma adesão à greve próxima de 100%". Para a FNAM, os números são "esperados".
"O descontentamento e a saída dos médicos do Serviço Nacional de Saúde [SNS] são o prato do dia. Quem ainda está no SNS, entendeu que este é o momento para fazer alguma coisa", afirmou Joana Bordalo e Sá.
Os médicos concentram-se, esta quarta-feira à tarde, em Lisboa. Reivindicam "condições de trabalho que sejam dignas". "A começar pela grelha salarial que queremos que seja justa. Queremos que o ministro da Saúde mude de estratégia, que perceba que é preciso ouvir os médicos. É preciso atender às propostas que a FNAM tem feito e que visam melhorias no nosso dia-a-dia para que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde", explicou Joana Bordalo e Sá, acusando a tutela de ter "empurrado" os médicos para a greve.
"As negociações estão a decorrer a um ritmo demasiado lento, com quatro assuntos em cima da mesa e ainda nem fechamos o primeiro. Todo o processo começou em abril de 2022. Estamos a falar de um ano. Tendo em vista que, das quatro matérias, ainda nem a primeira está encerrada, não temos alternativa. Fomos empurrados para isto", lamentou.