Estatísticas do México, país onde surgiu o H1N1, traçam um retrato semelhante ao que se passa em Portugal.
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Ainda sem certezas, surgem os primeiros dados sobre a mortalidade do H1N1: no México, onde tudo começou, é de 1% dos doentes confirmados. Será, portanto, inferior, dado que a maioria dos casos não é analisada.
Os números são do Ministério da Saúde mexicano e apontam 65 672 casos confirmados de infecção por H1N1, de que resultaram 656 óbitos. São números subvalorizados. Tal como em Portugal - "ou mais ainda" - "a maioria dos doentes, não se sentindo suficientemente mal, não vai ao médico e não são feitos testes", explica ao JN o infecciologista Jaime Nina.
Esta taxa de 1% não está, assim, fora das expectativas. E é natural que seja superior à portuguesa, que andará pelos 0,2% dos casos confirmados laboratorialmente. "Neste momento há entre dez a 12 mil positivos, com 20 e tal mortos. Portanto, dado que a maioria dos casos não é analisada, a mortalidade andará muito próxima da da gripe sazonal, que é de 0,1%". Mas tudo assenta, ainda, em especulações, que só serão confirmadas após o fim da época gripal, "lá para Maio".
O que é possível dizer, por enquanto, é que entre as amostras analisadas, não surgiu nenhuma confirmação dos vírus sazonais "desde Julho". E já foram feitas mais de 13 mil análises. Ou seja, diz o especialista do Instituto Ricardo Jorge, a gripe sazonal não anda aí em força, misturada com o H1N1. "Se existir, frequente não é com certeza. E é possível que tenha sido varrida". Aliás, é para isso que apontam evidências vindas da Austrália e da Nova Zelândia e foi exactamente o que aconteceu em 1968, quando a gripe de Hong Kong (a actual A-H3N2) varreu a asiática (A-H2N2).
Os dados mexicanos, compilados até 30 de Novembro oferecem, contudo, um retrato muito aproximado das características da pandemia. A faixa etária mais afectada, entre os doentes confirmados, vai dos dez aos 19 anos, ou seja, a idade escolar, em que a transmissão é mais fácil - a partilha de espaços fechados por muitos alunos. Segue-se a faixa dos 20 aos 29. Já no que toca à mortalidade, dois terços dos óbitos é de pessoas em idade activa (20-54 anos). E 7,7% das mortes ocorreu em crianças até quatro anos.
A análise das autoridades de saúde do México revela ainda que 15% dos doentes falecidos não tinham patologia associada. A percentagem não se afasta muito da verificada em Portugal, actualmente com cinco mortes em pessoas saudáveis, num total de 24 óbitos (cerca de 20%). As patologias associadas mais frequentes (em 37% dos casos) são as alterações metabólicas, "tal como em Portugal". Envolvem, por exemplo, diabéticos. Sabe-se ainda que 14,2% dos falecidos eram fumadores e 11% tinham problemas cardiovasvulares. Apenas 2,1% eram doentes oncológicos e 5,5% apresentavam patologia respiratória.
O retrato da mortalidade no México sublinha, de certa forma, os grupos escolhidos como prioritários para vacinação em Portugal: crianças muito pequenas e doentes crónicos. E mesmo os sintomas mais frequentes, com uma ou outra diferença, encaixam nos registados entre os doentes portugueses.