Grupo criado pela Igreja vai tratar vítimas de abusos sexuais e reabilitar agressores
O número (915090000) criado para a receção de denúncias de abusos sexuais ou pedidos de ajuda vai ser ativado a partir de 22 de maio. O grupo Vita, criado pela Conferência Episcopal mas que vai funcionar de forma autónoma em relação à Igreja, pretende disponibilizar apoio psicológico ou psiquiátrico a vítimas de abusos e a agressores.
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O grupo vai criar uma bolsa de profissionais, testar um programa de prevenção primário e publicar um manual de prevenção de situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis na Igreja. O grupo Vita vai apresentar relatórios semestrais, sendo o primeiro divulgado em dezembro, revelou esta quarta-feira a coordenadora Rute Agulhas.
As vítimas são o foco prioritário mas evitar reincidências ou prevenir novos abusos também são prioridades. Assim, também será prestado apoio psicoterapêutico a agressores com vista à sua possível reabilitação e até reintegração, explicou o professor universitário Ricardo Barroso, que também integra o grupo.
A intenção, explicou Ricardo Barroso, um dos seis elementos que integra a equipa, é que o acompanhamento clínico pretenda também a reinserção dos abusadores, "com devidos cuidados e adaptações".
"Haverá sempre indivíduos em que a intervenção terapêutica não será eficaz", admitiu o professor universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais. Mas garantiu que já há estratégicas testadas que permitem a recuperação de muitos abusadores.
Linha aberta dia 22 de maio
O número de telemóvel será atendido entre as 9 e as 18 horas de segunda a sexta-feira. As denúncias ou pedidos de ajuda também podem ser enviados por email (geral@grupovita.pt). O grupo pretende ainda criar parcerias com serviços de apoio domiciliário, por exemplo, para a divulgação do apoio.
O atendimento pode ser presencial ou online, inicialmente pelos seis membros do grupo. Estando ainda por definir o lugar onde esse atendimento pode ser feito, Rute Agulhas admite que um ou dois elementos do grupo se possam deslocar onde é solicitada ajuda.
Além do apoio psicoterapêutico, também irá ser prestada ajuda jurídico ou social. O grupo prevê, ainda, dar formação a profissionais e a membros da Igreja para os capacitar em resposta e prevenção. É que, apesar de não ter um mandato definido, o grupo planeou atividades até 2025. Depois deste prazo, explicou Rute Agulhas, dependerá das atividades e da capacitação entretanto reforçadas das comissões diocesanas.
O grupo Vita, recorde-se, foi criado pela Conferência Episcopal na sequência das conclusões do relatório da comissão independente, coordenada por Pedro Strecht, que durante 2022 validou 512 denúncias de abusos sexuais na Igreja cometidos entre 1950 e o ano passado. O número de vítimas estimado é de 4815.
Na apresentação do grupo, esta tarde, no Hotel Mundial, em Lisboa, D. José Ornelas frisou que a Igreja entrou "numa nova fase" e que não só assume o compromisso, pedido pelo Papa Francisco, de "tolerância zero" relativamente aos abusos sexuais mas também a intenção de prevenir novos casos.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa frisou ontem, na apresentação do Vita, que a Igreja entra "numa nova fase". E que se compromete não só a ter "tolerância zero" contra abusos como pretende prevenir novos casos. "Não é apenas ter em conta o mal que aconteceu e tratar sequelas como prevenir que não volte a acontecer", sublinhou D. José Ornelas.
"Vimos como a primeira comissão independente fez o seu trabalho,ue causou muito impacto para conhecer a realidade dramática destes abusos. Conhecer quem são, a realidade das vítimas dos abusos foi a nossa prioridade. Agora queremos saber quais os caminhos que se impõem para tratar bem casos que venham a acontecer, mas sobretudo para criar competências dentro da igreja para que, o mais possível, possamos prevenir e tratar o que possa acontecer", explicou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Consultas no SNS
Rute Agulhas, coordenadora do grupo Vita, revelou que recebeu do psiquiatra Daniel Sampaio, que integrou a comissão independente, a proposta de o acompanhamento das vítimas de abusos na Igreja ser prioritário nas unidades do Serviço Nacional de Saúde. A psicóloga referiu esperar mais informação, mas o grupo considera não ser a melhor resposta. O SNS, defendeu Rute Agulhas, "tem dificuldade em dar resposta" a todos os pedidos de consulta e esta seria uma forma de priorizar estas vítimas em detrimento de outras que nalguns casos esperam por uma resposta "há meses".
O grupo, explicou a coordenadora, considera o recurso à bolsa de profissionais, que será criada em articulação com as ordens de psicólogos e de médicos, uma resposta "mais adequada e justa".
O manual de prevenção de situações de abuso assim como outros materiais de apoio será disponibilizado no site do grupo (www.grupovita.pt).
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O grupo Vita, explicou Rute Agulhas, está "disponível" para apoiar as vitimas que denunciaram casos de abusos à comissão independente, com a qual pretende reunir.