A guerra da Ucrânia, e consequente fluxo de migrantes, fez com que a chegada a Portugal de refugiados de outras origens abrandasse.
Corpo do artigo
No ano passado, segundo a Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações, entre janeiro e dezembro, o país acolheu 1238 beneficiários de proteção internacional, maioritariamente de 33 nacionalidades diferentes. Mas este ano, até à data, ainda só chegaram 156. Em contrapartida, desde outubro, Portugal já acolheu quase 43 mil pessoas que fugiram da guerra da Ucrânia. Hoje, comemora-se o Dia Mundial do Refugiado.
Desde o início da crise migratória na Europa, em 2015, Portugal acolheu, até hoje, 4127 beneficiários de proteção internacional, ao abrigo de diferentes programas. Entre as nacionalidades com maior número de refugiados estão os sírios, iraquianos, eritreus, sudaneses, sudaneses do Sul, somalianos, nigerianos, apátridas, malianos e afegãos.
O certo é que os compromissos assumidos pelo país acabaram por ser atrasados com a chegada da pandemia. Em 2020, só entraram em solo luso 327 refugiados. Mas, no ano passado, o fluxo foi retomado, com o acolhimento de 1238 pessoas.
860 do Afeganistão
No último trimestre do ano passado, com os talibãs a voltarem ao Governo do Afeganistão, uma nova crise migratória teve início. Já chegaram a Portugal, desde setembro, 860 refugiados provenientes daquele país. Entretanto, começou o atual conflito da Ucrânia, originando uma das maiores crises de refugiados dos tempos modernos, o que veio colocar "travão" ao acolhimento de migrantes de outras origens, muitos ainda "presos" em campos de refugiados. Desde 24 de fevereiro, segundo a Secretaria de Estado da Igualdade e das Migrações adiantou ao JN, "foram formalizados 42 925 pedidos de proteção temporária por cidadãos deslocados da Ucrânia, mas não apenas de nacionalidade ucraniana".
André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados Portugal (JRS) e coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, afirma que não consegue ter "uma voz crítica" sobre o assunto. "Compreendo o momento. A Ucrânia e o Afeganistão podem ter roubado energia e empenho, deixando os projetos de reinstalação, e outros, ficar um pouco em stand by". Já Paulo Fontes, diretor de campanhas da Amnistia Internacional Portugal, lamenta que Portugal e a Europa "não façam com os outros refugiados o que fizeram com os ucranianos, que foi muito bem feito".