Refugiados ucranianos. "Temos uma grande gratidão a Portugal, mas agora quero voltar"
Ludmila Shputiak, de 63 anos, quer voltar à Ucrânia. Está refugiada em Caminha, desde março. Chora ao contar que saiu de Kiev, debaixo de bombas. Fugiu com a nora, que é chinesa, deixando para trás o filho de 30 anos.
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Emociona-se ainda mais, quando agradece. "Temos uma grande gratidão ao povo português, que nos deu apoio. Cheguei com a roupa do corpo. Até apoio psicológico tive, mas agora quero voltar para estar ao lado do meu filho", diz a ucraniana, que frequenta as aulas de português para refugiados em Caminha. Aquele município minhoto acolheu 78 ucranianos (28 famílias) e criou uma turma de aulas de português com 44. Ainda com lágrimas no rosto, Ludmila ri enquanto pronuncia uma enxurrada de palavras que aprendeu: "Bom dia, boa tarde, boa noite, obrigada, bonito, homem, mulher, bacalhau...".
Apoio encoraja regresso
O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, refere que os cerca "de 40 mil" refugiados em Portugal desde o início da guerra estão a movimentar-se para o regresso à Ucrânia. "Sentimos esta vontade dos ucranianos de regressar em breve. Alguns já estão mesmo programados para o fazer agora e muitos estão a pedir ajuda concreta à nossa associação em todo o país", disse Pavlo Sadokha ao JN, referindo que este movimento está a ser impulsionado pela saudade.
"A maioria diz: "lá é a nossa casa, é lá que está a nossa família, os nossos maridos". O maior problema disto tudo é a separação das famílias. As pessoas não aguentam. Tenho a certeza que a maioria vai regressar", afirma, comentando que, por outro lado, os apoios a nível mundial estão a encorajar os refugiados a retornar.
"Isto é como na vida económica dos países. Há um sinal político que faz alterações na bolsa. E com as pessoas funciona igual, quando veem um sinal de apoio à Ucrânia, começam logo a planear o seu regresso", refere Pavlo, considerando que "os ucranianos agora estão na "guerra santa". Sabem que estão a lutar pela verdade, que o que aconteceu é tão injusto que tem de ser vencido e não há outra opção senão a Ucrânia vencer esta guerra". "Muitos querem regressar para estar junto com as famílias e ajudar a esta vitória do país. Não perderam o medo à guerra, às explosões e à morte, mas ganharam coragem e certeza de que a Ucrânia vai ganhar", sublinhou.
De avião ou autocarro
Em Cascais, segundo município do país com maior número de refugiados ucranianos - 2635 -, a Câmara Municipal está, segundo o autarca Carlos Carreiras, a programar o retorno. "Temos isso previsto, só falta saber se vai ser de autocarro ou de avião. Preferimos que aqueles que querem regressar vão de avião, mas vai depender do efetivo. O meio de transporte será justificado pela quantidade", disse ao JN o presidente da autarquia, indicando que "neste momento há duas tendências": estagnação de pedidos de acolhimento de ucranianos em Portugal e surgimento de pedidos de transporte para regressar à Ucrânia. "Ainda não é uma tendência muito consistente, mas quando fizemos a operação de os ir buscar à fronteira com a Roménia, garantimos a todos os que trazíamos que depois também os levávamos, que regressariam", referiu Carlos Carreiras, concluindo que existem fundos "de uma conta solidária para suportar essas despesas".
Sob a alçada da CPCJ estão 15 menores
Desde o início da guerra na Ucrânia, já chegaram a Portugal cerca de 12 800 menores, sendo que 731 deles se apresentaram na presença de outra pessoa que não o progenitor. No entanto, há pelo menos 15 crianças que entraram em território português não acompanhadas e sem qualquer representante legal que lhes permita uma estadia segura.
Nestes casos, em que o SEF observou que os menores estariam perante uma situação de perigo iminente, as crianças foram encaminhadas para a alçada da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ). Portugal já atribuiu, aproximadamente, 43 mil proteções temporárias a pessoas que fugiram do conflito na Ucrânia, sendo que, segundo os dados do SEF, o maior número de proteções temporárias concedidas continua a ser registado no Sul. As cidades mais requisitadas são Lisboa, Cascais, Porto, Sintra e Albufeira.