DGS propõe priorização dos mais velhos por ordem decrescente. Doentes com patologias sem limite de idade.
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Mais de um milhão e 511 mil pessoas entre os 65 e os 79 anos de idade devem começar a ser vacinadas contra a covid-19 na segunda fase do processo de imunização, previsto para a terceira semana de abril. A Direção-Geral da Saúde (DGS) revelou, anteontem, que a Comissão Técnica da Vacinação propôs à task force "uma estratégia em dois braços, que correrá em paralelo". Segundo adiantou a DGS, serão vacinados os utentes por idades, "utilizando o critério de faixa etária decrescente", e as "pessoas com pelo menos uma das patologias identificadas para a fase dois, sem limite de idade".
Para já, o grupo de doenças consideradas como prioritárias ainda está a ser definido, bem como a estratificação pela qual os mais velhos começarão a ser chamados. Se será, por exemplo, com um intervalo de dois em dois ou de cinco em cinco anos.
Depois dos idosos com 80 anos ou mais - cuja vacinação deve ficar concluída até 11 de abril, dia previsto para terminar a primeira fase -, o grupo seguinte (que está incluído para a segunda fase da vacinação na norma ainda em vigor) é o dos 65 aos 79 anos "independentemente da presença de patologias".
A idade como critério principal para a vacinação é defendida por especialistas e entidades, como a Ordem dos Médicos. Também o coordenador da task force, Henrique Gouveia e Melo, partilha da opinião, considerando-o "o critério mais justo". "Há uma correlação muito forte entre a maior parte das doenças e [a] idade. Fazendo a vacinação por faixas etárias decrescentes está a atacar-se também essas comorbilidades" disse o vice-almirante, esta semana.
Ema Paulino, da Comissão de Vacinação, considerou importante manter o critério de dar prioridade a doentes com comorbilidades, independentemente da idade, porque são essas as pessoas que acabam por ser mais internadas, ocupando camas nas enfermarias e nos cuidados intensivos. Na sua opinião, a título pessoal, "faz sentido haver novamente uma combinação de estratégias entre o varrimento por idade e as pessoas que estão em risco acrescido de internamento e morte", disse.
9% com primeira dose
Os dados do relatório da vacinação dão conta de estarem vacinadas, com a primeira dose, até 28 de março, 149 459 pessoas entre os 65 e os 79 anos, pelo critério das doenças associadas a partir dos 50 anos. Representam 9% dos 1,6 milhões de pessoas nesta idade e apenas 3% tinham, nessa altura, a segunda dose tomada.
A task force da vacinação não discrimina as idades vacinadas da mesma forma que a DGS divide os casos de infeção e os óbitos. Mas até 31 de março, a letalidade entre os 70 e os 79 anos era de 6,6%. A segunda mais elevada depois dos maiores de 80 anos (16,3%).
Para Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, a DGS mais uma vez decide "sob a pressão da sociedade civil". "Para conseguirmos vacinar muita gente, temos de conseguir simplificar o processo e as idades é a melhor forma de o fazer", por abranger primeiro os que têm mais doenças e são mais frágeis.
O médico sublinhou que determinadas doenças não estão devidamente codificadas nos serviços de saúde e que esse facto pode afastar muitos doentes das prioridades. Mas põe a hipótese de serem vacinados primeiro "alguns grupos restritos mais frágeis, como os transplantados".