Há 30 dias em vigília, bombeiros sapadores do Porto dizem que a "revolta não é de hoje"
Acampados desde o início de setembro em frente à câmara municipal do Porto, um grupo de bombeiros sapadores da cidade (e não só) pede que o Governo legisle a profissão, que não é valorizada e revista há mais de 20 anos.
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Nem a chuva persistente que cai no Porto desmobiliza o grupo de bombeiros sapadores do Porto (e de outras cidades próximas), que está há 30 dias em vigília em frente à câmara municipal. A ação de protesto, tal como a que ocorreu esta quarta-feira na manifestação em Lisboa, reivindica a valorização da carreira e dos salários, a constituição da profissão como de desgaste rápido e o aumento do subsídio de risco, que está atualmente nos 7,03 euros mensais. "É cansativo, mas é um sacrifício que nós todos estamos a fazer", diz Leandro Queirós, de 48 anos.
O "acampamento" na Praça General Humberto Delgado, no Porto, em frente ao edifício da câmara municipal, tem funcionado por turnos. "Hoje tivemos de nos organizar porque muita gente foi para Lisboa em autocarros e nós às 18.30 horas saímos daqui e vamos entrar ao serviço à noite", conta o bombeiro sapador com 27 anos de trabalho. As imagens de hoje na escadaria da Assembleia da República, em Lisboa, são a demonstração da "revolta de muitos e muitos anos". Leandro Queirós, acompanhado dos colegas, lamenta que a carreira não seja revista há mais de 20 anos e que o salário só suba por conta da inflação.
Um outro bombeiro sapador afirma que estes profissionais deveriam ser incluídos num regime de desgaste rápido, uma vez que aos 60 anos de idade não têm a mesma capacidade física para atender às situações urgentes. Uma das reivindicações dos protestos é a reforma aos 50 anos.
Equipas sem motivação
Depois das palavras da ministra da Administração Interna sobre a responsabilidade das autarquias, Leandro Queirós critica a "conversa política" que, nas suas palavras, acabará por diluir as reivindicações dos bombeiros sapadores. "O Governo tem que legislar", disse, depois do grupo de bombeiros sapadores ter estado uns minutos à conversa com o presidente da câmara do Porto.
Rui Moreira disse, em declarações aos jornalistas, que só por "desconhecimento" é que Margarida Blasco pode considerar que a responsabilidade da valorização dos sapadores passa pelas autarquias. Em reação ao protesto de Lisboa, a governante disse que os profissionais que se manifestaram na escadaria da Assembleia da República "são bombeiros cujo patrão não é Estado, são bombeiros que dependem das autarquias".
As palavras não caíram bem junto da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, que reagiu com "estranheza e estupefação". "Como é sabido, as autarquias locais não têm poder legislativo - este depende exclusivamente do Governo e da Assembleia da República", apontou a associação liderada pela socialista Luísa Salgueiro em comunicado.
Leandro Queirós, a trabalhar como chefe de serviço no Regimento de Sapadores do Porto, refere que "não tem sido fácil motivar as equipas". "É muito complicado (...) A nossa revolta não é de hoje, é de há muitos anos", sublinha.