Dentistas portugueses partilham as semanas entre Portugal e o estrangeiro em busca de melhores remunerações. Mais de 1500 profissionais emigraram.
Corpo do artigo
Há 327 dentistas a trabalhar em Portugal e no estrangeiro em simultâneo. Aproveitam as pontes aéreas e dividem as semanas ou meses entre Porto e Londres, Lisboa e Madrid ou outras cidades. Do total de médicos dentistas inscritos na respetiva ordem profissional, 13% trabalham exclusivamente no estrangeiro.
Os números sobre a emigração deste grupo profissional, relativos a 2018, são mais fidedignos do que os do passado porque resultam de um inquérito realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) aos inscritos e já não dependem do número de certificados emitidos para que os dentistas possam exercer fora de Portugal e que, muitas vezes, acabam por não ser usados.
Os dados da OMD indicam que "há 1509 médicos dentistas a exercer exclusivamente no estrangeiro e estima-se que a exercer exclusivamente em Portugal sejam 9385". Há, ainda, 327 que trabalham dentro e fora do país e 847 inscritos que não exercem a profissão por razões várias, incluindo a reforma.
Faltam condições no país
Apesar da metodologia de recolha da informação ser diferente, o bastonário Orlando Monteiro Baptista constata que são mais os dentistas a admitir trabalhar fora do país do que os pedidos de certificados realizados em anos anteriores.
Melhores remunerações e condições de trabalho são os principais fatores que levam os dentistas a procurar respostas fora de Portugal. Para Orlando Monteiro da Silva, "Portugal não consegue reter os seus médicos dentistas porque não tem condições remuneratórias e de exercício da profissão para que fiquem no país", além de ter um "problema de literacia e acesso à saúde oral", com muitos portugueses sem acesso a cuidados.
Por cá, e de acordo com os médicos dentistas que participaram no estudo "Diagnóstico à Empregabilidade na Medicina Dentária", 45% têm um rendimento mensal bruto até 1500 euros, enquanto 33% ganham entre 1500 e 3000 euros brutos por mês e 20% ganham mais.
Em vários países da Europa, incluindo o Reino Unido, as ofertas de emprego nesta área variam entre 4000 e 6500 euros de remuneração base acrescidos de remuneração variável.
Em Portugal, refere a Ordem dos Dentistas, a remuneração destes profissionais é, essencialmente, variável consoante o número e o custo dos procedimentos. "Só 26% têm uma remuneração fixa" e há 11% que recebem um salário fixo acrescido de uma percentagem variável.
Saber mais
30% não vão ao dentista
Mais de 30% dos portugueses não vão ao dentista ou só o fazem em caso de urgência e quase 10% não têm qualquer dente, segundo o Barómetro da Saúde Oral de 2019, da Ordem dos Médicos Dentistas.
23% sem dinheiro
Dos portugueses que nunca vão ao dentista ou só vão em caso de necessidade, 22,8% alegam não ter capacidade financeira, um valor que, contudo, baixou relativamente ao ano passado.
5500 em congresso
Arrancou na quinta-feira e prolonga-se até amanhã na Feira Internacional de Lisboa, o 28.º Congresso da OMD, onde são esperados mais de 5500 participantes.