Em dez anos, aumentaram o número de casais recompostos, bem como o seu número médio de filhos. Uma em cada quatro das famílias portuguesas com filhos são reconstituídas. Também há mais famílias monoparentais. No entanto, as famílias portuguesas são cada vez mais pequenas. Estes são alguns dados revelados pelo Censos 2021.
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Há 124 717 famílias reconstituídas (ou recompostas) em Portugal, um número que aumentou 17,9% em dez anos. Esta organização familiar é constituída por casais com filhos, dos quais pelo menos um é apenas filho de um dos membros do casal. Representa já 8,8% do total de famílias portuguesas com filhos, mais 2,3% que na operação censitária realizada em 2011.
"Um em cada quatro casais com filhos é um casal recomposto", sublinhou Susana Atalaia, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Foi na Área Metropolitana de Lisboa - onde um em cada oito casais com filhos é recomposto -, e nas regiões do Alentejo e dos Açores - nas quais um em cada dez casais é recomposto - que se registou um maior número de crianças por família reconstituída.
Estes são dados que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou, esta terça-feira, numa análise detalhada sobre o que os Censos 2021 dizem em relação às estruturas familiares em Portugal.
O número de filhos, quer comuns quer não comuns ao casal, aumentou de 196 016 para 232 481, uma média de 1,86 filhos por família reconstituída. Ainda assim, na maioria das famílias reconstruídas (55,2%) não existem filhos comuns ao casal, 35,1% tem um filho em comum e apenas 9,7% tem dois ou mais filhos comuns. Apesar disso, os resultados mostram que houve um aumento maior das situações de dois ou mais filhos em comum, segundo Susana Atalaia.
Mais de metade destes casais recompostos (62,3%) vive em união de facto, apesar de serem os de direito, isto é, na qual a relação de cônjuges tem por base um casamento, têm mais filhos, em especial dois ou mais filhos comuns.
Os dados mostram que, na sua globalidade, a maioria das famílias portuguesas têm filhos, das quais 45,3% correspondem a casais e 18,5% a núcleos monoparentais. A maioria dos casais com filhos são casais de direito (78,6%), e residem no Norte e na Região Autónoma da Madeira. Apenas no Alentejo se regista um número médio de filhos superior entre os casais que vivem em união de facto.
No total dos núcleos familiares de casais com filhos (1 415 817), existem 2 179 123 filhos, um valor abaixo ao que se registava há uma década. Por isso, o número médio de filhos (1,54) diminuiu em todas as regiões do país, com exceção na Área Metropolitana de Lisboa e nas regiões do Alentejo e Algarve. Há 36,2% de casais sem filhos.
Mãe continua a ser a principal responsável pelos filhos
Há cada vez mais famílias monoparentais: em 2021 existiam cerca de 580 mil, um valor que aumentou 20,7% em dez anos. Estes núcleos familiares, que integram apenas pai ou mãe com filhos, representam quase um quinto das famílias portuguesas, tendo a cargo, em média, 1,34 filhos. A maioria destas famílias residente na Região Autónoma da Madeira (23,9%) e na Área Metropolitana de Lisboa (22,7%).
Por detrás deste aumento está um conjunto de mudanças como o desdobramento dos núcleos de casal com filhos, o retorno dos jovens a casa de um dos pais ou até mesmo os efeitos dos cuidados aos familiares mais velhos, "em que se evita o contacto entre os mais jovens e os avós e por isso a mãe deixa os filhos ao cuidado do pai", explicou Sofia Marinho, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Manteve-se a tendência de existirem mais famílias monoparentais de mãe (85,6%) do que de pai (14,4%). Por seu turno, o pai tende a residir com filhos jovens e adultos, em especial com 15 anos ou mais (73,7%), e a mãe com crianças menores de 6 anos (92,7%).
Ambos os progenitores partilham condições semelhantes perante o trabalho e escolaridade. Este retrato aponta ainda que 70% dos que residem com uma a duas crianças estavam empregados, uma situação que baixa entre os que têm a cargo filhos com mais de 15 anos (45%). Grande parte dos que vivem com três ou mais crianças estudaram até ao ensino básico (53,4%), mas o número médio de filhos, independentemente da idade, é superior entre os que têm o ensino superior.
Por estado civil, Sofia Marinho apontou que há um aumento dos núcleos monoparentais em que a mãe e o pai são solteiros (75% face a 2011), mas também dos que são divorciados. Sinais estes da mudança de valores em relação ao casamento. "As pessoas valorizam cada vez mais a família, pelo que já não estão para se sujeitar à infelicidade de uma relação conjugal a título de uma institucionalidade como o casamento", justificou.
Famílias são cada vez mais pequenas
Apesar de existirem 4 149 096 agregados domésticos privados - um valor que aumentou 2,6% face a 2011 -, há menos pessoas por lar, situam-se em média nas 2,5 pessoas. Aumentaram sobretudo os agregados com uma e duas pessoas, descendo, em contrapartida, os de três e quatro pessoas.
"As famílias são cada vez mais pequenas, estando assentes em estruturas de menor dimensão. A generalidade do país está a ter poucos filhos. As pessoas, apesar de desejarem ter mais, ficam-se unicamente por um", salientou Susana Clemente, técnica do Serviço de Estatísticas Demográficas do INE.
Além disso, mais de um milhão de portugueses vive sozinho, o que significa que quase um quarto (24,8%) dos agregados são unipessoais. As mulheres são as que mais vivem sozinhas (61,4%), tendo a maioria 65 ou mais anos. Uma situação que pode estar relacionada com o facto do número de viúvas ser superior ao de viúvos, refletindo a maior esperança de vida das mulheres, avançou o INE.