Em Barcelona, Adrià Ballester fundou o "The Free Conversations Movement". Qualquer desconhecido pode sentar-se numa cadeira e falar sobre o que quiser. O resultado será apenas umas gargalhadas ou histórias incríveis de vida, que, depois de publicadas, são inspiração para outro
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Com duas cadeiras e um simples cartaz escrito à mão, onde se lê "Free conversations" [Conversas grátis], Adrià Ballester chega ao Arco do Triunfo, em Barcelona, e monta a sua "banca" à espera que desconhecidos se sentem para falar com ele. O objetivo não é vender nada, nem passar qualquer tipo de ideologia, política ou religiosa. Simplesmente conversar. O tema é livre e o objetivo é um só, segundo este jovem de 26 anos, estudante de comunicação e jornalismo: "Dar um sítio às pessoas onde se possam expressar livremente". O movimento - que tem divulgado amplamente nas redes sociais - tem cada vez mais seguidores e interessados em replicar o projeto noutras cidades e países, entre os quais Portugal.
Adrià começou a "oferecer" conversas há dois anos, inspirado no seu próprio caso, quando, num dia que lhe estava a correr pessimamente, encontrou um desconhecido com quem trocou dois dedos de conversa e no final se sentiu muito melhor. "Hoje em dia, vivemos em grandes cidades, rodeados de tecnologia, mas esquecemo-nos do mais simples, que é o contacto humano", refere ao JN Urbano. "Muitas vezes estamos a sair de casa e a mandar uma mensagem para a Austrália pelo telemóvel, mas não dizemos "bom-dia" ao vizinho do prédio, e nem sabemos o seu nome", exemplifica.
Já dei grandes gargalhadas e já fiquei com "pele de galinha", com histórias de vida que me contaram
Nas suas conversas, são abordados temas diversos. "As pessoas falam das suas vidas, dos seus países, de política, ou simplesmente buscam informações sobre a cidade", revela, acrescentando que os resultados podem ser diametralmente opostos. "Já dei grandes gargalhadas e já fiquei com "pele de galinha", com histórias de vida que me contaram", confessa.
Para ter uma ideia desta diversidade de temas basta percorrer à página do grupo no Facebook, onde Adrià posta algumas histórias. "Algumas são brutais", atira, relembrando casos de violações ou de pessoas com doenças muito graves. "Sensibilizou-me, por exemplo, uma rapariga que me escreveu e me disse que foi por ler o relato que publiquei de uma outra jovem que havia sido vítima de abusos sexuais que ganhou ânimo para reagir e continuar a viver", conta.
Sob o Arco do Triunfo de Barcelona, ao sábado ou ao domingo, o jovem mantém-se fiel ao ideal expresso no manifesto do movimento: "Os avanços tecnológicos e científicos desde o século XX, particularmente em comunicação e informação, contribuíram para o Mundo com ferramentas valiosas para alcançar grandes objetivos. Mas, em contrapartida, também levaram a fenómenos cada vez mais frequentes e massivos de pessoas que se sentem insignificantes e sós, ainda que estejam hiperconectadas".
Levar em frente o movimento não é, no entanto, fácil. Não só porque, como diz, não tem formação em psicologia, mas também porque chega a ter problemas com a Polícia. "Sim, de vez em quando, chegam e querem cobrar-me 300 ou 400 euros pela ocupação do espaço público", revela.
Às suas cadeiras chega gente de todo o Mundo e às suas redes sociais pedidos de contacto de todo o Mundo (ler caixa). De Portugal já teve contactos de interessados do Porto e Lisboa, mas também de cidades mais pequenas, como recentemente de um grupo de estudantes de Castro Verde. E conclui com a mensagem que o movimento quer mandar ao Mundo: "Vamos conversar cara a cara. A comunicação une -nos humanamente, acima de qualquer diferença. Partilhemos histórias e exponhamos as nossas experiências, para crescer em humanidade".
Como ajudar e juntar-se ao movimento?
Com cada vez mais gente de todo o Mundo a procurar informações sobre o movimento, Adrià Ballester sublinha que quer ver o projeto crescer de forma organizada. Os interessados em apoiar o projeto podem contactá-lo diretamente por telefone (0034 622 090 096); email: contacto@thefreeconversationsmovement.com; ou pelas redes sociais: Instagram: @freeconversations ou The Free Conversations Movement (Facebbok)