À porta das escolas de Guimarães, mesmo os pais que concordam com a greve começam a mostrar cansaço.
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O primeiro dia de serviços mínimos em algumas das Escolas do Agrupamento Santos Simões, em Guimarães, foi de serviços máximos porque, para garantir o que foi determinado pelo Tribunal Arbitral, o diretor teve que convocar todos os assistentes operacionais. O impacto da medida está a ser aliviado por algumas das escolas do concelho estarem em pausa letiva, por já funcionarem no sistema de semestres.
À primeira hora da manhã havia, esta quarta-feira, menos carros do que é habitual, na entrada da Escola EB 2,3 João de Meira, no centro da Cidade Berço. O primeiro dia de cumprimento dos serviços mínimos decretados pelo Tribunal Arbitral coincidiu com a pausa letiva de três dias, do final do primeiro semestre. Todavia, Ana Isabel Baptista congratula-se por poder deixar o filho, de 10 anos, no centro de estudo que funciona no estabelecimento escolar. "Até agora, quando a escola fechava também não funcionava esta componente", refere. Esta mãe é "100% a favor" das reivindicações que estão na origem desta greve, mas deixa alguns reparos. "Está a afetar demasiado e não nos podemos esquecer que é uma greve que se segue a uma pandemia em que os alunos já perderam muitos conteúdos", lembra. "Não nos podemos esquecer que há meninos que a única refeição quente que fazem diariamente é na escola", acrescenta.
Confusão com várias greves
Anabela Pereira alinha pelo mesmo diapasão, mãe de um aluno de 11 anos da mesma escola, "no início estava mais tolerante". Queixa-se da confusão, com tantas greves diferentes. Houve um dia em que faltou ao trabalho porque havia greve no distrito de Braga e nesse dia o filho teve aula, em contrapartida, houve dias em que a escola esteve fechada e esta encarregada de educação não tinha conhecimento da existência de greves.
Sérgio Macedo, professor de Teatro e Educação Moral, afirma que a escola tem fechado dois ou três dias por semana, "em grande medida pela falta de assistentes operacionais". Nuno M., chega para deixar o filho de 11 anos e não esconde a revolta que sente, "os professores têm uma posição egoísta e falsa", atira. "Só se deslocam porque querem, se não concorrerem para escolas longe de casa não são lá colocados", afirma. "Uma escola pública de qualidade não pode ter 50% do tempo sem aulas", indigna-se este pai. "É uma vergonha os professores estarem a pagar aos assistentes operacionais para fazerem greve", acrescenta.
Assistentes operacionais negam fundo de greve
Cristina Silva, coordenadora dos assistentes operacionais na Escola EB 2,3 e Secundária Santos Simões, em Guimarães, nega que haja financiamento da greve da sua classe pelos professores. "Aqui não está a acontecer nada disso", afirma categoricamente. "O que acontece é que há pessoas com 30 anos de serviço a ganhar praticamente o mesmo que outras pessoas que entram agora", queixa-se. Cristina fez greve por quatro vezes. "Em três ocasiões a escola teve mesmo que fechar porque não havia assistentes operacionais suficientes. Houve outra vez em que só fechamos de tarde, porque a adesão não foi total. Isto implica com a carteira, quem faz greve não recebe".
Diretor obrigado a convocar serviços máximos
O diretor deste agrupamento de seis escolas, Benjamim Salgado, está na "difícil posição" de ter que determinar quem vai assegurar os serviços mínimos até sexta-feira, o prazo definido na diretiva do Tribunal Arbitral. "Em algumas escolas do 1.º ciclo os serviços mínimos são serviços máximos, porque a Componente de Apoio à Família e a necessidade de assegurar os almoços obriga a ter dois funcionários de manhã e outros tantos de tarde que se sobrepõem na hora do almoço para garantir a cantina. Nas escolas onde há quatro funcionários, foi preciso convocar toda a gente", esclarece.
Na escola sede do Agrupamento Santos Simões, em condições normais trabalham 11 funcionários por turno. Benjamim Salgado estima que sejam necessários mais de metade para garantir o funcionamento da escola, pelo que, "se houver uma nova diretiva com serviços mínimos na segunda-feira, quando retomarmos as atividades letivas, vai ser difícil". Para já, o diretor ainda não tem reações relativamente aos serviços mínimos que "estão a ser cumpridos, não só pelos assistentes operacionais, como também pelos professores que acompanham os alunos com medidas adicionais e seletivas".
Benjamim Salgado recorda que não é a primeira vez que os diretores são colocados nesta posição de ter que determinar serviços mínimos. "Já aconteceu quando houve greve no período das reuniões de avaliação", lembra. "É uma responsabilidade acrescida e não é fácil. Aqui não houve problemas no passado e esperamos que não haja agora, a preocupação é tentar aplicar o que está definido o melhor possível", assegura.
A julgar pela opinião de professores que vão entrando na escola para as reuniões, a próxima semana, se os serviços mínimos se mantiverem, pode ser mais complicada para este diretor. "Estão a acicatar os professores", afirma Carina Silva, professora contratada de Biologia, "tenho feito greve e participei nas manifestações e acho que isto é uma provocação do Ministério", afirma.