No ano passado, 21,6% da população estava em risco de pobreza ou de exclusão social. Depois de quatro anos consecutivos a descer, a taxa manteve-se inalterada face a 2018, sobretudo devido à queda registada nos idosos, que está agora ao nível mais baixo do século.
Corpo do artigo
Em contrapartida, há mais crianças, desempregados, famílias monoparentais e trabalhadores que vivem com menos de 6014 euros por ano. E com o atual contexto pandémico, pede-se uma estratégia nacional para erradicação da pobreza.
Os números foram recentemente atualizados pelo gabinete de estatísticas europeu: no ano passado, Portugal tinha 2,215 milhões de residentes em risco de pobreza. Numa leitura por idades, constata-se que, desde que o Instituto Nacional de Estatística começou a apurar dados, em 2003, nunca a taxa foi tão baixa na população com mais de 65 anos: 20% era pobre.
Uma queda de 1,2 pontos percentuais que permitiu estabilizar a taxa de risco de pobreza, já que subiu nas restantes idades [ver infografia]. Em particular nas crianças, que continuam a ser o elo mais fraco: 22,3% estavam em risco de pobreza, com especial impacto na faixa etária dos 12-17 anos, com mais de um quarto dos menores naquela condição.
E porque as crianças não se fazem sem família, também a taxa de pobreza no seio dos agregados com dependentes menores a cargo aumentou. Ainda assim, é metade da registada nas famílias monoparentais - sendo que, destas, mais de 85% são femininas. Os dados do Eurostat mostram agora uma substancial subida, com mais de um terço das monoparentais pobres, contra 28,3% em 2018.
À realidade da feminização da pobreza juntam-se aqueles que, mesmo tendo um emprego, não conseguem sair da exclusão social. E também aqui prossegue a escalada, com 10,8% dos trabalhadores abaixo do limiar de pobreza. Olhando para os desempregados, atingiu-se o valor mais alto desde 2005, com quase metade (47,5%) na condição de pobre. De destacar, ainda, que, em 2019, face a 2018, aumentou a taxa de pobreza junto das populações com mais habilitações literárias.
Impacto da pandemia
Números que ninguém duvida que engrossarão em contexto pandémico, pedindo-se uma estratégia concertada de combate a este flagelo. Para o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, Jardim Moreira, "os investimentos nas empresas não chegam, é preciso investir nas pessoas".
Secundado pelo líder da Cáritas, que há muito pede que o tema esteja sob a égide do Ministério da Presidência, dada a sua multidisciplinaridade. Ficando provado, com os dados agora libertados pelo Eurostat, que "não é verdade que o crescimento económico seja a razão fundamental para obviar os problemas da pobreza", Eugénio Fonseca questiona-se: "Queremos mesmo erradicar a pobreza? Não sei se há vontade política para isso. Se houvesse, havia maior concertação de esforços".