A Ordem dos Médicos diz que cerca 1000 médicos de família podem pedir a reforma este ano. A estes somam-se 700 que se podem vir a reformar até 2024. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, avisa que se todos os médicos em idade de reforma decidirem efetivamente sair a situação das pessoas sem médico de família "ficará ainda mais crítica". Um alerta deixado hoje, no Dia Mundial do Médico de Família.
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Em comunicado de imprensa, a Ordem dos Médicos diz que este não é um problema de falta de acesso à formação, indicando que na última década terminaram a especialidade de Medicina Geral e Familiar cerca de 500 médicos por ano. "O problema é que destes só cerca de 350 (70%) ingressam nos concursos abertos e muitos deles acabam por sair do SNS nos anos subsequentes", salienta o bastonário, evidenciando que a migração para o setor privado e para o estrangeiro é elevada já que são oferecidas condições mais atrativas de trabalho.
Segundo a Ordem, neste momento há cerca de 1500 médicos de família a trabalhar exclusivamente no setor privado ou social e "bastariam" mais 700 no SNS para existir cobertura para todos os 1,3 milhões de utentes sem médico de família (dados mais recentes). Miguel Guimarães diz que enquanto o SNS não se tornar competitivo, vai continuar a existir este problema.
"Para fixar médicos são necessárias condições diferentes de trabalho, não se trata apenas de remunerações justas e de acordo com o nível de conhecimento e formação destes profissionais. Trata-se também de acesso à tecnologia, de incentivos locais, de desburocratização do trabalho do médico, de oferecer uma expectativa de carreira e de valorizar o seu trabalho e papel a todos os níveis no nosso sistema de saúde público", enumera.
75 vagas por preencher
A Ordem dos Médicos também revela que no último concurso para médicos de Medicina Geral e Familiar no Serviço Nacional de Saúde, aberto em dezembro de 2021, só foram preenchidas 160 vagas, de um total de 235 em que se inscreveram 241 candidatos. "Ou seja, 81 médicos que concorreram ao concurso optaram por não escolher qualquer vaga, o que mostra que a oferta não é suficientemente atrativa", afirma o comunicado.
Celebra-se esta quinta-feira, dia 19 de maio, o dia mundial do Médico de Família, uma iniciativa criada pela primeira vez em 2010, pela Organização Mundial dos Médicos de Família - tendo este ano o lema "Family Doctors: always there to help" ("Médicos de Família: sempre prontos para ajudar").
O bastonário da Ordem dos Médicos relembra a qualidade dos médicos de família portugueses, elogiando a sua capacidade de "resiliência, humanismo e solidariedade" mesmo nos momentos mais difíceis que têm atravessado nos últimos anos de pandemia.
"Não haverá Serviço Nacional de Saúde sem médicos de família", alerta, referindo que esta efeméride é uma oportunidade para reconhecer o papel central dos médicos de família na prestação de cuidados de saúde para toda a população.