Programadas intervenções em seis troços até 2028. Há 180 quilómetros de litoral em erosão. Alimentação artificial de praias implica investimento de, pelo menos, 60 milhões de euros.
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Pelo menos 45 milhões a 60,3 milhões de euros deverão ser investidos, até 2028, com a alimentação artificial de praias em seis troços arenosos já programados para conter a erosão da costa portuguesa, que atinge 180 quilómetros de extensão e continua a agravar-se.
Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em 62 anos (1958-2020), o território costeiro de Portugal continental perdeu 1313 hectares (13,13 quilómetros quadrados), o equivalente a 1313 campos de futebol, com recuos médios da linha de costa entre 0,5 e 9 metros por ano (1958/2010).
Apesar de não haver novas zonas em erosão significativa, dos 350 milhões de euros investidos na última década e meia em proteção costeira e da estabilização em setores como Costa de Caparica, em Almada, e Praia de Faro, o fenómeno intensificou-se entre 2010 e 2020.
Nesse período, o agravamento das taxas de erosão foi de um terço entre a Costa Nova (Ílhavo) e Mira, duas vezes entre Castelo do Neiva e Esposende, Ofir (Esposende) e Estela (Póvoa de Varzim), Cortegaça e Furadouro e a sul do Torrão do Lameiro (Ovar) e, pior, três vezes entre Cova-Gala e Lavos (Figueira da Foz).
Entre Cova-Gala e Lavos
De acordo com dados sobre taxas de recuo entre 2018 e 2021, obtidos pelo JN junto da APA, o maior, de 42,5 metros, ocorreu nesse troço. Já entre 2010 e 2020 tinha atingido -70 metros. Dos quatro quilómetros de extensão, 82% estão em erosão, com um recuo médio de quatro metros/ano.
Apesar de ter recebido mais de 2,4 milhões de metros cúbicos de areia entre 2010 e 2021, é um dos pontos críticos. Está prevista a deposição de, pelo menos, três milhões de metros cúbicos de areia entre 2023 e 2024, com um custo estimado entre 15 milhões e 30 milhões de euros, adiantou a APA ao JN.
Os dados do programa COSMO de monitorização da costa confirmam a gravidade da situação também entre Cortegaça e Torrão do Lameiro, em Ovar, onde ocorreu um recuo máximo de -35 metros entre 2018 e 2021 e uma média de cinco metros por ano. Com uma extensão de 13,6 km, o troço apresenta 94% em erosão.
Até 2028, está previsto um investimento entre 15 milhões e 30 milhões de euros - metade do total a aplicar nos seis troços a alimentar já programados pela APA, a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) e pelas administrações portuárias.
Risco em Esposende
A norte, entre Ofir/Bonança e Pedrinhas/Cedovém, Esposende, situa-se outro setor crítico, com 95% da sua extensão (2,9 km) em erosão, tendo registado um recuo máximo de dez metros e uma média de 2,5 km/ano. Estão previstos 1,8 milhões de euros para alimentação artificial do areal.
Nos 21 km entre a Praia da Barra, em Ílhavo, e a Praia de Mira (norte), 25% estão em erosão, não tendo registados avanços ou recuos significativos nos últimos quatro anos. Após a deposição de 2,4 milhões de metros cúbicos de areia (dez milhões de euros), em 2020, frente a dois esporões da Costa Nova (investimento de dez milhões de euros), novos volumes estão pendentes da monitorização.
Situação mais positiva é da Costa de Caparica, onde 93% do troço de quatro quilómetros estão em situação estável, em parte graças à última intervenção de alimentação artificial, em 2019, com um milhão de metros cúbicos de areia. Mas este setor apresenta uma tendência erosiva de longo prazo. Entre 2023 e 2024, é esperado mais um milhão de metros cúbicos de areia (custo: cinco milhões a seis milhões de euros).
A sul, no troço entre Quarteira, Vale do Lobo e Garrão, em Loulé, onde já se verificaram operações semelhantes, a APA prevê a colocação, já entre 2022 e 2023, de 1,5 milhões de metros cúbicos de areia, com um custo estimado em oito milhões de euros.