Tecnologia permite melhorar a cirurgia de estimulação cerebral profunda e reduzir os efeitos negativos, como perda de sensibilidade.
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É como mergulhar no futuro e bastam uns óculos 3D para ver nascer o holograma de um cérebro no meio da sala. A tecnologia está a ser apresentada em Portugal a cerca de cem neurocirurgiões, que já sonham vir a utilizá-la nos próximos anos para melhorar a precisão de cirurgias a doentes com parkinson. A acontecer, isso permitirá evitar efeitos laterais que agora acontecem.
Se em 2002 o neurocirurgião Rui Vaz levou a estimulação cerebral profunda para o Hospital São João, no Porto, para o tratamento cirúrgico de doentes com parkinson, agora, o sonho é evoluir. "Em 17 anos, temos 350 doentes operados. A cirurgia não cura a doença, mas permite controlar a parte motora e melhorar a qualidade de vida." Para já, o planeamento da cirurgia é feito com imagens de ressonância em 2D. Mas as imagens 3D podem vir a revolucionar a técnica. "Quando planeio a cirurgia, planeio as coordenadas do sítio onde vou situar o elétrodo e a força da estimulação. Com 3D, consigo planeá-lo de modo mais rigoroso. Porque deixo de trabalhar num atlas e passo para um holograma feito a partir do cérebro do doente", explica o diretor do serviço de neurocirurgia do São João.
Ao permitir mais precisão, diminuem-se os efeitos laterais que resultam da estimulação de zonas que não era suposto. "Se a corrente difunde para uma via que controla os movimentos, o doente pode passar a ter movimentos involuntários. Outro caso é perder sensibilidade numa parte do corpo", esclarece. Isso poderá ser evitado com a tecnologia que, para já, só é utilizada em aulas de medicina nos Estados Unidos.
Mas o objetivo dos neurocirurgiões é trazer a tecnologia para a prática. E Jens Volkmann, cirurgião em Wolfsburg, Alemanha, está confiante de que, em três a cinco anos, vai ser possível "usar isto no tratamento dos pacientes". "Nos últimos anos, a tecnologia avançou muito. Os pacemakers são melhores, os elétrodos são melhores e o software também. Os avanços do futuro virão do software, de sistemas inteligentes, que mostram a anatomia muito melhor", acrescenta.
Outras aplicações
E a realidade aumentada não servirá só à neurocirurgia, poderá ser usada em muitas outras áreas. "As imagens holográficas já estão a ser testadas na cirurgia geral, em lesões do fígado", adianta Rui Vaz enquanto experimenta os óculos 3D sob a orientação de Nick Maling, cientista da Boston Scientific, que lhe vai mostrando o cérebro num holograma. "Isto será útil para tratar qualquer doença. Pela primeira vez na história, podemos realmente ver para onde estamos a olhar. Pode ser usado no planeamento, cirurgia e pós-operatório", conclui Nick Maling.