Equipamentos obsoletos e falta de profissionais dificultam resposta. Administradores pedem para se olhar a longo prazo.
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Com equipamentos obsoletos e carência de profissionais de saúde, os hospitais do SNS não têm capacidade para dar resposta aos pedidos internos de exames e estão cada vez mais dependentes do setor privado, que nem sempre responde na quantidade e tempos desejados. Os atrasos prejudicam os diagnósticos e tratamentos dos utentes e têm impacto nas consultas e cirurgias.
Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), não tem dados que permitam dizer que a situação está pior do que em 2019, mas não tem dúvidas de que "não está bem". "Os hospitais têm recorrido ao privado de forma crescente nos últimos anos e muitas vezes o setor não responde nem na quantidade nem no tempo que desejaríamos", afirma o responsável, considerando que esta dependência de terceiros "é uma má estratégia".
No caso dos hospitais, o recurso ao privado faz-se através de concursos públicos. Face às carências, até os grandes hospitais compram milhares de exames fora, sendo as ressonâncias, as TAC e as PET os mais requisitados. O problema, explica Xavier Barreto, é que nalguns exames mais complexos, nomeadamente das áreas da radioterapia e da medicina nuclear, os privados também têm dificuldade em responder às solicitações do SNS e às vezes há falta de interesse.
"Quando os hospitais abrem concursos por exemplo para PET, nem todos os prestadores que têm estas máquinas concorrem", afirma o líder da APAH. E quando há poucos interessados, os hospitais acabam por ficar limitados à resposta que existe e têm mais dificuldade em fazer cumprir os tempos de resposta e quantidades adquiridas.
Perante a situação atual e a certeza de que nos próximos anos as necessidades de MCDT vão continuar a aumentar, Xavier Barreto considera "premente" o investimento na reabilitação dos equipamentos de diagnóstico do SNS. "Era importante olhar para os próximos dez anos e perceber a procura que vamos ter nessa altura. Porque estes processos são morosos, os equipamentos custam milhares de euros e entre a decisão de compra e a entrada em funcionamento da máquina pode demorar muito tempo", alerta o administrador hospitalar.
O diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, tem apontado a renovação dos equipamentos e os investimentos em infraestruturas como uma área-chave para melhorar a resposta assistencial, mas também para fixar profissionais no SNS. No último mês, o Governo anunciou que vai duplicar para 20 milhões de euros o investimento disponível para melhorar, ainda este ano, as instalações e equipamentos das maternidades. À exceção de duas, que já tinham projetos em curso com financiamento comunitário, todas as unidades concorreram e as candidaturas somaram um total de 37 milhões de euros. Num óbvio sinal das necessidades "prementes".