O Hospital de São João, Porto, acusou o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) de "violar todas as regras da ética profissional" ao anunciar ter realizado, em outubro, o primeiro transplante de tecido ovárico em Portugal.
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Numa exposição enviada ao presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, Eurico Reis, a administração do Centro Hospitalar de São João reivindica para si esse feito, afirmando ter efetuado a 8 de janeiro deste ano o primeiro transplante de tecido ovário em Portugal.
"Tratou-se de uma jovem a quem tinham sido retirados os ovários aos 18 anos de idade e a quem 10 anos depois este transplante permitiu restabelecer a função ovárica e inclusive a criopreservação de um blastocisto após a realização de um ciclo de fertilização 'in vitro'. O caso clínico foi recentemente aceite para publicação na prestigiada revista da especialidade Reproductive Biomedicine Online", afirmam os responsáveis do Hospital de São João.
O texto é assinado pelo presidente do Conselho de Administração, António Ferreira, pelo diretor do Serviço Ginecologia e Obstetrícia, Nuno Montenegro, e pela responsável da Unidade de Medicina de Reprodução, Sónia Sousa, do Centro Hospitalar de São João.
"O procedimento efetuado constituiu um motivo de orgulho não apenas para a equipa da Unidade de Medicina da Reprodução que o levou a cabo mas também para a própria instituição Centro Hospitalar de São João. Orgulha-nos o serviço prestado à paciente bem como o impacto clínico do mesmo uma vez que, como anteriormente referido, foi efetuado pela primeira vez em Portugal", lê-se na exposição.
Acrescenta que na devida altura este facto "foi devidamente divulgado pelos meios de comunicação social para além de ter sido igualmente comunicado publicamente em reuniões científicas perante colegas dedicados ao estudo e tratamento da infertilidade".
"Apesar disso, em abril de 2015 foi divulgado pela diretora do Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar de Coimbra, Teresa Almeida Santos, através dos meios de comunicação social, a intenção de proceder a um suposto primeiro transplante de tecido ovárico em Portugal", salientam os responsáveis do São João.
Sublinham que Teresa Almeida Santos, até porque é presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, foi "publicamente e reiteradamente" informada do facto de nessa data já ter sido efetuado um transplante desse tipo no Porto.
"Para nosso espanto fomos esta semana confrontados com a notícia de que os responsáveis do Centro Hospital da Universidade de Coimbra, nomeadamente a diretora do Serviço de Medicina da Reprodução, divulgaram a realização de um suposto primeiro transplante de tecido ovárico em Portugal em outubro de 2015", referem.
António Ferreira, Nuno Montenegro e Sónia Sousa consideram, por isso, que a atitude dos responsáveis pelo Centro Hospitalar de Coimbra "constitui um desrespeito para com os profissionais envolvidos na realização do primeiro transplante de tecido ovárico em Portugal, mas também para com todos os restantes profissionais aos quais, direta ou indiretamente o assunto diz respeito".
"Perante os factos, o Centro Hospitalar de São João enviou uma exposição ao Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida para que possa proceder da forma que entenda adequada", acrescentam.