Ricardo Gusmão, presidente da secção de Suicidologia da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, nota que os suicídios entre os idosos têm vindo a aumentar, particularmente entre as mulheres.
Corpo do artigo
As chamadas para as linhas de crise dizem-nos que, apesar de ter estabilizado, a população continua a procurar respostas mais eficazes para a saúde mental?
Os números de acesso às linhas de crise dizem-nos muito pouco. Não sabemos quais as reais necessidades das pessoas que recorrem a essas linhas, nem sabemos se as pessoas que têm necessidades lhes acedem. O que sabemos é que, com a epidemia, e a mitigação de contactos face a face, houve um aumento da oferta dessas linhas.
Falta-nos informação para decidir melhor sobre saúde mental?
Exatamente. Seria importante saber a proporção dessas pessoas que aceitou ajuda efetiva por profissionais de saúde mental e seria importante avaliar estas linhas quanto à sua efetividade. Sabe-se que quem usa este tipo de serviços são pessoas com sofrimento mental normal e com doenças mentais ligeiras. Tem havido uma "psicologização" do sofrimento normal, criando procura de serviços. Da "infodemia mental" as pessoas com doença mental não retiraram ainda vantagem.
Tem sido noticiado, um pouco por toda a Europa, um aumento das tentativas de suicídio entre os jovens. É possível confirmar esta realidade?
Não existe qualquer evidência de aumento significativo de tentativas de suicídio, em termos de tendência, no grupo dos 10 aos 14 anos e dos 15 aos 24 anos. O que há é relatos esparsos, que levam a rumores.
O suicídio de idosos ocupa uma fatia considerável do total. Falta-nos olhar para a saúde mental desta faixa da população?
O suicídio dos idosos tem vindo a aumentar muito lentamente, em particular o das mulheres idosas. Falta olhar quer para a saúde mental dos idosos, quer, enquanto sociedade, fazer uma reflexão profunda sobre o papel dos mais velhos na comunidade, e o estatuto da morte na vida. Para lidar com o fenómeno do suicídio nos idosos é preciso ir ter com eles e prover as suas necessidades. Para isso, precisamos de médicos de família mais capacitados, equipas de cuidados de saúde primários a trabalhar com um modelo de gestão das doenças mentais comuns e geriátrico, e serviços de psiquiatria de ligação em todos os hospitais gerais.