Houve 1528 pessoas idosas que foram vítimas de violência em 2022, o que significa que, em média diária, há quatro idosos que sofrem agressões, de acordo com os dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). São menos 66 vítimas em relação a 2021. Segundo os especialistas, a maioria tem vergonha de denunciar os agressores, que, em aproximadamente 30% dos casos, são os filhos.
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O número de pessoas idosas vítimas de violência, apoiados pela APAV, desceu em 2022. No entanto, continuam a existir milhares de casos. Todos os dias há uma média de quatro idosos agredidos e muitas das vítimas não reportam as situações nem procuram ajuda. Os filhos representam cerca de 28,7% dos agressores.
A falta de denúncia por parte dos idosos prende-se, muitas vezes, com "a desculpabilização e a crença de que o pai e mãe têm que proteger os filhos", explica o psicólogo José Pinto, da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). Para muitas destas pessoas "denunciar um filho é uma vergonha", afirma Maria João Peixoto, coordenadora da Equipa de Prevenção de Violência em Adultos do Hospital de São João. Além da vergonha, "há o receio de maus-tratos e de serem institucionalizados", explica a psiquiatra.
"Tal como as crianças, os idosos têm dificuldade em pedir ajuda e temos que ser nós a estar atentos", alerta o psicologo da CVP. Além do dever enquanto sociedade de estar atento, de ajudar e de denunciar os casos de violência, existe uma rede de apoio, que engloba associações, instituições, hospitais e ação social. O acompanhamento por parte das instituições e associações "ajuda na criação de estratégias de segurança e dão às vítimas um maior conhecimento dos seus direitos, quer queiram ou não avançar com uma queixa judicial", afirma Marta Carmo, gestora do projeto "Portugal Mais Velho" da APAV.
76% das vítimas são mulheres
Segundo as estatísticas da associação, mais de 76% das vítimas pertence ao sexo feminino e a média de idades situa-se nos 76 anos. Cerca de 30% dos agressores são os filhos e, segundo Maria João Peixoto, em muitas situações há mais do que um agressor.
Além disso a psiquiatra explica que o tipo de violência mais comum contra os mais velhos "não é a física, mas sim a psicológica e a financeira". A atual crise económico-social poderá ser um dos fatores da relação de violência de filhos para pais. Segundo o psicólogo da CVP "há muitas pessoas que estão a voltar para casa dos pais" devido a questões financeiras. Baseada em exemplos de crises anteriores, Marta Carmo afirma que estas influenciam e tendem a fazer com que aumente o nível de violência. Acrescenta, ainda, que "o fator da coabitação é um fator de risco".
Para Maria João Peixoto é essencial que este fenómeno de violência não seja tolerável, nem que se justifique e, acima de tudo, que seja punível.
Casos detetados nas urgências
As Equipas de Proteção de Violência em Adultos existentes em hospitais contam com especialistas de várias áreas para sensibilizar, reportar e reencaminhar as vítimas. "Temos que estar disponíveis a intervir e estar atentos. Tentamos que a denúncia seja preparada e fazemos uma avaliação do risco", afirma Maria João Peixoto. Acrescenta que, quando o idoso é autónomo, tentam sensibilizá-lo, explicando que o comportamento de que são alvo não é tolerável, para que seja o próprio a reportar a situação.
Muitas vezes, nas urgências dos hospitais é possível detetar casos de agressão através, por exemplo, dos "hematomas, omissão de cuidados, desidratação, desnutrição, falta de cuidados de higiene" refere Maria João Peixoto. Nas consultas externas os pacientes "estabelecem uma relação de confiança com o médico e, a longo prazo, acabam por contar".
Esta quinta-feira assinala-se o Dia Internacional da Consciencialização da Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas. Para Marta Carmo este é um dia fundamental para "alertar as potenciais vítimas dos comportamentos violentos e para as estratégias que podem adotar e, ainda, para dar a conhecer os serviços de apoio disponíveis". Além disso, destaca a importância de sensibilizar a sociedade em geral para este problema.