Em 2022, 864 pessoas colocaram termo à vida. Este é o número mais baixo de suicídios em Portugal desde 2016, ano em que ocorreram 842. Os números são do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), disponibilizados ao JN pelo Ministério da Justiça.
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Olhando para os últimos seis anos, é possível verificar que, apesar do pico em 2018 (1020 mortes por suicídios) e em 2021 (952 mortes por suicídio), o número de pessoas que decidem terminar com a vida se encontra estável - nos últimos seis anos, houve três variações positivas e três negativas.
Ricardo Gusmão, psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, corrobora esta leitura, reforçando que "os suicídios estão relativamente estáveis nos últimos 100 anos, com uma tendência de diminuição de cerca de 1% ao ano".
Os mesmos dados disponibilizados pelo INML permitem ainda perceber a distribuição das mortes por suicídio nas diferentes faixas etárias. Foi no grupo entre os 61 e os 65 anos de idade que mais suicídios se verificaram em 2022, com um total de 100 mortes. Em acumulado, a idade adulta (dos 36 aos 65 anos) representa quase metade do total de suicídios.
Mas é na velhice que o panorama é preocupante, alerta Ana Matos Pires. A psiquiatra sublinha as 21 mortes de 2022 entre os 96 e os 100 anos. "Deve chocar-nos que numa faixa etária tão curta e com tão pouca população ocorram tantos suicídios." A especialista faz ainda uma caracterização da situação: "Ser homem e velho é fator de risco em Portugal para o suicídio".
Quanto aos restantes dados, Ana Matos Pires mostra-se reticente em tirar conclusões, referindo a natureza não fiável e concreta do número de suicídios (há mortes por suicídio que são consideradas de "motivação não determinada", não estando incluídas nestes valores; e os valores apresentados anualmente pelo INML e pelo Instituto Nacional de Estatística não coincidem), o que leva a que o problema esteja subdimensionado. "Ainda assim, os estudos indicam que Portugal não tem, em termos percentuais, uma taxa de suicídios elevada". Ricardo Gusmão discorda, afirmando que Portugal tem um valor semelhante à média europeia e superior à mundial. "A subnotificação retrata um país com muito menos suicídios do que na realidade existem: serão cerca de mais quase 80%".
"As metas serão muito difíceis de atingir", diz Gusmão, referindo-se ao objetivo da Organização Mundial de Saúde de reduzir os suicídios em 30% até 2030. A contínua (e crescente) espera pela primeira consulta de psiquiatria no SNS não é favorável ao cumprimento deste objetivo, admite Ana Matos Pires. A psiquiatra, que integra a equipa de Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, avalia os recursos atuais como escassos. "No entanto, este não é um trabalho exclusivo da saúde". Para a especialista, prevenir suicídios é do âmbito "social" mais do que "médico".
Linhas de ajuda
Vozes Amigas da Esperança - Tel.: 222 030 707; WhatsApp: 960 460 446; disponível todos os dias, das 16 horas às 22 horas
Telefone da Amizade - Tel.: 228 323 535; E-mail: jo@telefone-amizade.pt; disponível todos os dias, das 16 horas às 23 horas
Voz de Apoio - Tel.: 225 506 070; E-mail: sos@vozdeapoio.pt; disponível todos os dias, das 21 horas às zero horas
Conversa Amiga INATEL - Tel.: 210 027 159; disponível todos os dias, das 15 horas às 22 horas
SOS Voz Amiga - Tel.: 213 544 545, 912 802 669 ou 963 524 660; disponível todos os dias das 15.30 às 00.30
SOS Estudante - Tel.: 915 246 060, 969 554 545 ou 239 484 020; disponível todos os dias, das 20 horas à uma hora (exceto em férias escolares)